Há prazeres que só as mulheres conhecem



São muitos os comentários depreciativos que se fazem com respeito a menstruação a muitas décadas, por uma sociedade que sacrifica e abandona o corpo da mulher.

Olhamos para a menstruação como uma maldição que nos persegue cada mês durante um longo período da nossa vida. Por isso, parece-me óbvio, que vivendo o período desde uma posição de rejeição, as mulheres soframos de dores e alterações menstruais.

E é este olhar negativo (e acreditem que ainda existe nos dias de hoje apesar de haver tanta informação) que da cabida à publicidade tendenciosa como a do Trifene 200 (desculpem lá outra vez a má publicidade). 

Eu sempre tive uma imagem negativa da marca, exactamente por ser tendenciosa e com um posicionamento patriarcal face a menstruação. Ou seja, o posicionamento de marketing do produto face aos 2 ou 3 analgésicos que dominam e são top reminders à frente de Trifene, é um posicionamento estratégico como analgésico feminino aproveitando algumas características do produto (combate de dores menstruais) apesar de ser um analgésico unisexo convencional.

O anúncio que actualmente passa nos canais de televisão começa logo com uma pergunta profundamente tendenciosa: “As dores menstruais teimam em estragar o teu dia?”. 

Mensagem subliminar da pergunta em questão: a pré-menstruação e menstruação são uma seca, causam dores e desconforto (mas Trifene esta aqui para te ajudar). 


Alimentando assim a ideia que todas conhecemos da menstruação, que o período é um estorvo que nos trava a nossa vida diária. Mas a cereja em cima do bolo é o facto de que todo o anúncio esta pensado para as mulheres jovens (aparecem adolescentes no vídeo, a voz off é de uma adolescente…), perpetuando assim esta ideia de estorvo e mal-estar, nas mulheres mais jovens, fazendo-as sentir e acreditar que necessitam de uma pastilhinha milagrosa para ter uma vida feliz.

Contudo, há uma parte que caiu no esquecimento e é que a menstruação é muito mais que uma simples manifestação física: é uma fonte de criatividade, intuição, espiritualidade e conhecimento interior. Fisiologicamente as hormonas governam as diferentes fases do ciclo menstrual mas estas não afectam apenas o nosso aparelho reprodutor mas também transformam muitos outros aspectos quer físicos quer emocionais.

A natureza concedeu-nos o poder de criar (vidas ou projectos); o poder de conectar com a nossa sombra, tendo assim a oportunidade de curar as nossas feridas para poder avançar, crescer, amadurecer e ser felizes. E cada mês temos uma nova oportunidade para experimentar a criação e a conexão com o nosso interior. Limitar a fase pré-menstrual e menstrual o ao simplório SPM e fazê-lo desaparecer com uma pastilha, é desperdiçar uma força vital infinita.

Conhecer o nosso ciclo menstrual e compreender as características de cada uma das fases que o envolvem, permite-nos ser mais respeitosas com nós mesmas, aceitar os nossos ritmos e aproveitar o potencial que se encontra em cada fase e acima de tudo não depender de uma caixinha de comprimidos milagrosos. Isso só nos torna dependentes porque a verdade é que a fase pré-menstrual e menstrual não têm que doer.  

A irritabilidade profunda, as enxaquecas incessantes, as dores lombares, a intensa ansiedade por doces, não são traços próprios da fase pré-menstrual nem as cólicas dolorosíssimas da fase menstrual. São sim, sintomas de que alguma coisa precisa ser revista e alterada. Por exemplo, a raiva, tão comum nos dias prévios a menstruação, pode indicar um desequilíbrio hormonal. Esta raiva é produzida, normalmente, por situações de stress ao longo do nosso ciclo menstrual e mantida no tempo.

As dores e o sofrimento em qualquer fase do nosso ciclo, é indicativo de que algo importante precisa de atenção. Nada nos nossos corpos de mulher, foi desenhado para viver sob doença. Uma revisão hormonal por um/uma profissional em endocrinologia que compreenda a situação real das mulheres é a chave mágica para todas as que padecem uma agonia nos dias prévios a menstruação, é muito melhor do que andar a sobrecarregar o nosso corpo com fármacos “milagrosos” que temos que usar (e comprar) todos os meses.

Pic Alice Hj

A chave para viver uma menstruação prazerosa não é o Trifene é o autoconhecimento. Por isso carxs publicistas da Trifene podem fazer um favor as mulheres portuguesas?! Mudem lá o vosso slogan "Há "dores" que só as mulheres conhecem" por "Há prazeres que só as mulheres conhecem".








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1 comentário:

  1. Adorei o texto e concordo com tudo o que escreveste.
    Quando alguma mulher me diz que tem dores menstruais eu recomendo sempre a leitura do "Corpo de mulher, sabedoria de mulher". Para mim foi um livro mágico, fonte de autoconhecimento, e depois de por em prática muitas das sugestões da autora nunca mais tive dores menstruais

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