Fartinha...

Fartinha de que os “profissionais” da saúde prescrevam a pílula contraceptiva para outros fins que não evitar uma gravidez (contracepção) e que não esclareçam, como devem e como são obrigados a fazer, sobre os efeitos do uso deste medicamento. Sim, a pílula contraceptiva ou qualquer outro contraceptivo hormonal é um medicamento. Minhas senhoras comecemos pelo próprio nome “P í l u l a C o n  t r a c e p t i v a”  se tivesse sido criada para outros fins talvez se chama-se “Pílula Multiusos”.  

Acho um piadão que na publicidade médica e farmacêutica dizem “Não use este medicamento sem consultar o seu médico…” (e os médicos consultam quem!?! Pergunta irónica e puramente retórica todas sabemos que a fonte de saber médica é a omnipresente e que tudo sabe industria farmacêutica)  e recomendam a leitura das bulas para saber como tomar e que efeitos podem ocorrer (mesmo sabendo que a maioria não vai ler e por isso podiam ter o cuidado e a ética de ser eles alertar mas não convém, certo!?!).
A verdade é que desde 1960, quando Pincus y Rock encontraram a fórmula de fazer com que as mulheres fossem inférteis (sim, a pílula torna-nos inférteis e nem sempre temporariamente) e a baptizaram como pílula contraceptiva, colocando-o a disposição das mulheres, este medicamento tem sido o mais usado (e abusado) por pessoas saudáveis na história farmacológica moderna. Não vou mencionar os malabarismos e subterfúgios usados até a sua comercialização e fazer com que a pílula fosse aceite pelas mulheres que a utilizaram, isso fica para outro dia.

Eu quero focar-me no uso abusivo deste medicamento e como este medicamento previsto para manipular os ciclos menstruais e assim evitar a gravidez (ainda não compreendi esta mania em regularizar algo que por natureza se autoregula sozinho, ou seja, o nosso corpo) passa a ser prescrito para qualquer tipo de padecimento que desestabilize a tão desejada regularidade endocrinológica feminina.
A verdade é que hoje mal uma mulher entra num consultório médico/ginecologista e se queixa seja do que for a resposta é quase sempre a mesma “vamos tomar a pílula para regular a situação”… Vamos!?!  Vais. E a mulher nem se quer se questiona o porque de tanta regularização. Minhas senhoras, a única indicação conhecida e devidamente validade deste medicamento é a contraceptiva.  

Onde fica o marco legal em tudo isto? Porque é obvio que desde um ponto de vista legal não é correcto prescrever fármacos sem indicações reconhecidas para além de existir uma obrigatoriedade de informar sobre os mesmo as pessoas que os vão consumir, ou seja, não é mesma coisa dizer: Vais tomar a pílula contraceptiva para regular o acne, ou para regular os quistos nos ovários, ou para regular o fluxo menstrual ou para regular isto ou aquilo. Do que dizer: Olha talvez pudéssemos experimentar a pílula contraceptiva para isto ou aquilo contudo não sei se vai resolver o problema e os efeitos secundários são os seguintes… e uma vez apresentados tais efeitos convidar a paciente decidir sobre o seu próprio corpo. A margem de escolha da paciente muda radicalmente num discurso e no outro mas é claro que em nenhum deles são apresentadas alternativas o que realmente colocaria nas mãos da paciente uma real e efectiva, livre e voluntaria escolha do caminho que deseja seguir. Porque? Não compensa sermos nós a escolher?

Concretamente existem situações clínicas comuns onde os contraceptivos hormonais orais ou por outra via são prescritos com outros fins que não a contracepção. De certeza que já te aconteceu, apetece-te partilhar a tua história? Podes fazê-lo no fim deste post, usando os comentários. 
Vamos ver algumas destas situações:

Contracepção hormonal combinada para ciclos hormonais pouco regulares.
A contracepção hormonal não é para regular a menstruação é sim para suprimi-la. Sei que causa estranheza a certas mulheres mas a hemorragia que se tem no momento de pausa é uma hemorragia artificial por privação hormonal. É por essas e por outras que aos poucos se começa a pensar que é inútil que as mulheres sangrem artificialmente e que é lógico avançar com um método contraceptivo hormonal que apenas provoque um sangramento entre 1 a 4 vezes por ano. Quando nos vendem esta maravilha esquecem-se de dizer que isto vai aumentar o consumo do medicamento (nº de partilhas) o que aumenta o número de vendas e o que por sua vez beneficia os fabricantes. Há publicações que dizem: ‘As mulheres devem saber que já abandonaram o seu ciclo menstrual normal por uma menstruação de privação hormonal quando utilizam contraceptivos hormonais e que não existe nenhuma justificação médica para que o sangramento ocorra mensalmente.’
Se bem que depois encontramos outras contraditórias o que ainda gera mais confusão e a minha pergunta é: “A quem é que eles tentam convencer?”

Sim leram bem, “A q u e m é q u e e l e s t e n t a m c o n v e n c e r?!!”
Minhas cíclicas damas a menstruação (vamos deixar de a chamar período ou regra são nomes que tenta uniformiza-la) é o resultado final do funcionamento conjunto do hipotálamo-hipófise-ovários; os níveis hormonais desencadeados da interacção entre estas estruturas determinam as mudanças no tecido que recobre a matriz ou útero (endométrio) e dela deriva o sangramento mais ou menos regular. A pílula contraceptiva inibe esta interacção e impõe ao endométrio as suas próprias condições para produzir o sangramento. O que nos leva a concluir que não há uma indicação terapêutica para usar a pílula ou outro contraceptivo hormonal com a única e exclusiva finalidade de regular a menstruação, salvo o caso em que se deseje também a contracepção.

Contracepção hormonal para quistos benignos nos ovários
Em ocasiões e em determinadas etapas da vida, os ovários criam estruturas no seu interior que, fundamentalmente, desde que dispomos da ecografia e das análises hormonais, se têm teimado em chamar de quistos benignos e na pior das situações ovários poliquísticos. Aqui temos dois inimigos a tecnologia e a ciência médica que se aliaram para nos colocar nas costas mais uma patologia, quando a “arma” cai nas mãos erradas é o que acontece! Do qual podemos concluir (depois de anos de diagnósticos errados) que a medicina convencional desconhece a causa da maior parte destas estruturas e que o tratamento é dirigido apenas à suspensão dos sintomas criando “menstruações” regulares. Mais uma vez podemos ver como usar a pílula contraceptiva ou outro medicamento similar com o único propósito de supostamente curar quistos nos ovários ou outras patologias, maiores ou menores do ovário não resolve nada. Caso queiram saber mais sobre o aparecimento destas estruturas nos ovários recomendo a leitura do livro “Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher” da Drª Christiane Northrup.

Contracepção hormonal para amenorreia.
Há circunstâncias nas quais o stress, os transtornos da conduta alimentar e outras problemáticas que afectam a saúde física e psíquica das mulheres, obrigam o nosso corpo a economizar recursos e poupar uma perda de sangue que pode ser muito valiosa, motivo pelo qual suprime a menstruação. A ausência da menstruação (amenorreia) não é mais do que o aviso de que chegamos ao limite tolerado e que se transbordarmos entramos numa zona de perigo. Mas mesmo assim é demasiado habitual prescrever nestas situações a pílula contraceptiva ou similar e mais uma vez sem uma indicação correcta.
'Sangrantes' mulheres cíclicas, quando uma mulher esta com amenorreia a solução não é enganar o corpo com uma menstruação falsa, só vamos encontrar uma solução se investigarmos e descobrirmos onde radica o desequilíbrio para tentar corrigi-lo, certo? Também não existe uma indicação nos casos de endometriose, dismenorreia, sangramento menstrual excessivo ou síndrome pré-menstrual.

Contracepção hormonal para o acne
O acne (acne vulgaris) é uma doença inflamatória cronica que afecta o folículo polisebaceo, no qual, entre outros factores intervém a infecção por propionobacterium acne e outras bactérias. Entre as opções terapêuticas é verdade que existe medicamentos hormonais para esse fim caso sejam necessários e que contém ciproterona , antiandrogeno e etinilestradiol mas volto a frisar que são medicamentos hormonais com a finalidade do tratamento do acne e não são contraceptivos hormonais.
Aproveito para vos animar a fazer mascara de argila e água menstrual para tratamentos de acne antes de experimentar medicamentos ou cremes farmacêuticos.

Podíamos continuar aqui a mencionar e descobrir prescrições não próprias dos contraceptivos hormonais mas acho que já chega para nos perguntar qual serão os interesses e desconhecimento que acompanha cada acto medico no qual esta relacionado o ciclo menstrual. Porque é que desde a década de 60 este medicamento, com as suas vantagens e desvantagens tem sido usado e abusado sem limites.

A única verdade é que os contraceptivos hormonais combinados têm uma única aplicação, evitar a concepção e é para isso que devem ser prescritos. E que não nos vendam gato por lebre dizendo que tomar um contraceptivo hormonal diário melhora a qualidade de vida das mulheres, escondendo o obvio que a qualidade de vida se desfruta sendo livres.

Fonte:


  • Artigos vários de Enriqueta Barranco Médica ginecologista e Directora da Cátedra de Investigação Antonio Chamorro-Alejandro Otero da Universidade de Granada.
  • “Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher” da Drª Christiane Northrup.


Se já te indicaram a pílula contraceptiva ou similar com outra finalidade que não a contracepção conta-nos.  Podes fazê-lo usando os comentários. 


4 comentários:

  1. A mim indicaram-ma aos 17 anos, para tratar acne e ovários multipolicquísticos. Como entretanto iniciei a minha vida sexual, continuei a tomá-la. Passados uns 7 anos, comecei a ficar sem líbido. Perguntei à ginecologista da altura se não era melhor deixar de tomar a pílula. Ela afirmou que era impossível que a falta de desejo sexual se devesse à pílula (???) e pos-me a experimentar várias marcas. Todas tinham esse efeito secundário, entre tantos outros. Até que me fartei, deixei de tomar tudo e mudei de médica. O que é certo é que recuperei o desejo!

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    1. Infelizmente o teu testemunho é + comum do que aquilo que pensamos e a pílula é de facto um dos principais motivos de descenso da libido.
      Grata Confreira pela tua partilha-testemunho.

      1 abraçO
      Aida - Confraria Vermelha

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  2. Pois.... a mim também me indicaram a pilula aos 17 anos por menstruações muito irregulares e acne... :/ Hoje com 24 anos sinto-me muito insegura em deixar de a tomar, por motivos contraceptivos e também por ter descoberto uma falta de conhecimento profunda sobre o meu corpo, provavelmente porque nunca precisei de o conhecer, já que a pilula estava a trabalhar por ele.

    Quero muito aprender e por isso, assim que possa vou fazer o atlier de fertilidade consciente contigo Aida!

    Cláudia Cruz

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    1. Uma verdade inegável essa que comentas Cláudia a pílula orientada de forma incorrecta afasta-nos do nosso próprio corpo. :/
      Será um prazer partilhar contigo a aventura da Fertilidade Consciente :)

      1 beijinho
      Aida - Confraria Vermelha

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