Mãe e Filha (2)


Uma vida que se transforma em duas

A minha mãe e eu- Verão 1981


Nos últimos meses tenho investigado e pesquisado sobre a gravidez, trabalho de parto, parto e amamentação… não porque deseje ser mãe (neste momento não me questiono a maternidade e para ser sincera não sinto vontade de ser mãe, não sei se será sempre assim mas AGORA é!) mas sim porque todos estes processo, desde os distintos níveis (físico, mental, emocional), me permitem trabalhar a minha relação mãe-filha-mãe.

Nos últimos anos tenho recolhido informação sobre a minha história pessoal, e uma das coisas mais fascinantes e reveladora para mim foi saber como fui concebida e gestada… (já investigas-te essa parte da tua história pessoal?) apercebi-me que desde o princípio mãe e filha participam numa dinâmica dança de carinho e rejeição, dependência e independência, que continua o resto da nossa vida.

Normalmente quando pensamos nesta relação, pensamos sempre nos neurotransmissores que circulam no corpo da mãe e que criam uma distintivo física no corpo e no cérebro do bebé, imprimindo a sua sensação de bem-estar, segurança e confiança. A biologia da mãe faz com que o bebé “pense”: “Tudo esta bem. Vão cuidar de mim, Estou em paz” ou completamente o contrário. Somos conscientes da importância que a mãe tem para o futuro da sua própria filha durante a concepção e a gestação e esta ideia tão presente faz-nos esquecer, por vezes, que nos mesmas também somos (co)responsáveis do nosso destino e que influímos nele desde a concepção.

Quantas de nós, responsabilizamos a nossa mãe pelas nossas inseguranças, medos, vulnerabilidades… esquecendo-nos da nossa responsabilidade?

Tanto a mãe como a filha fazem aportações, sendo que o bebé é uma força muito dinâmica nesta equipa. Não tenho dúvidas desta força, nos últimos tempos observando amigas grávidas, apercebi-me como os seus desejos de comer são influídos directamente pelo bebé. Um bebé interage com a sua mãe desde o princípio, através de mudanças nas moléculas de comunicação: hormonas. Estas mudanças provocadas pelas hormonas afectam a saúde quer da mãe quer do bebé, por exemplo:

·         A placenta é fonte de hormonas esteróides que contribuem para o bem-estar da mãe.

·         O feto dá indicação ao corpo da mãe que esta grávida produzindo a hormona HCG (gonadotrofina coriónica humana), que dá a ordem ao corpo lúteo (órgão endócrino, de curta duração produtor de progesterona, que se forma no ovário depois de cada ovulação) que continue a produzir progesterona, com a finalidade de manter a gravidez.

·         As glândulas supra-renais do bebé são as responsáveis de prover de DHEA (dehidroepiandrosterona), percursora do estrogénio, a parte materna da placenta. O estrogénio produzido pela DHEA é necessário para desenvolver o tecido placentário e a capa muscular do útero. Se o corpo do bebé não pode produzir a quantidade suficiente de DHEA, a sua mãe não pode produzir estrogénio suficiente para suster a gravidez.

·         O bebé é também o responsável do início do trabalho de parto, provavelmente através de uma combinação de factores nos quais intervém as glândulas supra-renais e a pituitária. É satisfatório pensar que um sinal do cérebro e das glândulas supra-renais do bebé o colocam no comando do seu destino orquestrando o momento do seu nascimento.

Podíamos continuar a enumerar outros processos onde o comando é do bebé mas acho que estes são suficientes para ter uma coisa clara: uma filha esta unida com a sua mãe no seu próprio bem-estar desde a concepção e ambas contribuem para esse bem-estar. Esta união continua durante toda a vida.

As mães e as filhas “falam” sobre os seus respectivos sentimentos desde o início, apesar de não ser necessariamente através das palavras. Comunicam através de uma complexa serie de hormonas e neurotransmissores. Apesar de mãe e filha terem diferentes sistemas circulatórios, estão tão conectadas que praticamente todos os neurotransmissores e hormonas que produz o corpo da mãe afectam o bebé e vice-versa. Isso significa que todas as emoções e consequentes mudanças bioquímicas provocadas por essas emoções afectam o bebé e vice-versa.

Cada relação é única. Por isso não existe aquilo de: princípio perfeito, mãe perfeita, filha perfeita nem vida perfeita. A vida tem a sua própria maneira de acontecer. Tendo presente isto e que a relação mãe e filha é reciproca, podemos concluir algo fundamental: nem as circunstâncias do nosso nascimento nem os actos ou comportamento da nossa mãe têm o poder (total) para escrever o guião da nossa vida nem para nos impedir de tomar o caminho único e pessoal que fomos destinadas a tomar na vida.
Isso fazemo-lo sozinhas, compreendendo que à margem de como seja a nossa relação com a nossa mãe podemos assumir valentemente a responsabilidade de transformar o nosso legado materno de forma construtiva para a nossa vida sem responsabilizar a nossa mãe e compreendendo o poder e o mistério que a nossa conexão com ela tem ao longo da nossa vida.


Espero por ti (e as outras leitoras também) aqui nos comentários.

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