No início de Agosto, poucos
dias antes de ir de férias aceitei o desafio que me foi lançado por um projecto
que acho lindo e fresco, a Revista Mamã Orgânica.
É uma revista on line,
fresca, actual e bonita. O desafio em questão era uma entrevista sobre a
Confraria Vermelha mas acabou por ser uma conversa sincera e apaixonada pelo
meu trabalho e sobre todas nós.
Aqui fica um pedacinho:
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O que é a Confraria Vermelha?
A Confraria Vermelha é um
projecto que tem como propósito resgatar aspectos do colectivo solidário,
integrado e participativo das MULHERES. Este projecto pretende resgatar e
nutrir a SORORIDADE.
Vivemos um modelo patriarcal
de organização social caracterizado pelo individualismo, a luta e a competição
em benefício pessoal desconhecendo o respeito aos interesses da comunidade. E
nós, como mulheres contemporâneas sofremos uma fragmentação interna,
necessitamos produzir e estar integradas ao mercado de trabalho e assim
subordinadas a uma estrutura masculina que privilegia a linearidade de
comportamentos, os julgamentos rigorosos e os movimentos pessoais drásticos,
eficientes e sem envolvimento afectivo. Afastando-nos assim da nossa natureza
cíclica e rítmica por isso a Confraria Vermelha pretende resgatar e nutrir a
nossa natureza cíclica e rítmica.
Este projecto também procura
não esquecer e delimitar a diferença entre feminino, género, mulher.
Como ‘Feminino’ entendemos uma
estrutura de consciência que não esta referida aos órgãos sexuais, tampouco são
as mulheres as únicas guardiãs do feminino porque ele não está vinculado ao
princípio materno e transita livremente em homens, em mulheres e outros géneros
que a sociedade invisibiliza.
A Confraria Vermelha pretende
tecer espaços para a reflexão e reconstrução da trajectória pessoal desde uma
perspectiva de transformação, mudança e compreensão do caminho e das escolhas
pessoais de cada mulher.
A Confraria Vermelha também
pretende ser um espaço Gyn-ecológico para mulheres que estão decidas a
empreender o caminho do autoconhecimento. Neste espaço poderás encontrar dicas
de produtos ecológicos e naturais, publicações, cursos e acompanhamento que
provavelmente te será útil para viver cada etapa da tua vida de maneira
integral.
Quem é a Aida?
Mulher Criativa. Mulher
cíclica que sangra, renova, cria e transforma e tudo o mais que a vida me vai
proporcionando ser a cada momento por isso cultivo a poliformação, reúno
recursos nas áreas da animação sociocultural, escrita intuitiva e curativa,
consciência corporal, artística (teatro e narração de histórias).
Absoluta crente na
Criatividade como motor do desenvolvimento pessoal, produtivo e curativo. A
criatividade que nos permite ir onde nada mais nos pode levar, ao fundo de nós
mesm@s. Criadora da “Confraria Vermelha”, um sonho-projecto que abraça a tarefa
desafiadora de resgatar, ancorar e manter o vínculo com o conhecimento
matri-geracional a cerca do Ser Mulher e do seu poder criativo, desafiando
outras Mulheres a aceitar o mesmo desafio…
Como uma mulher ao conhecer mais sobre o seu ciclo
menstrual se pode conhecer mais a si mesma? (qual a relação entre o
conhecimento do ciclo menstrual e o autoconhecimento)?
Para responder a
esta questão seria interessante primeiro esclarecer e começar pelo que entendo
(entendemos) por autoconhecimento. Digo isto porque não a mesma coisa falar do
autoconhecimento que se associa aos livros de auto-ajuda do que falar do
autoconhecimento sexual (self help) que é o autoconhecimento que nos interessa
quando falamos de educação menstrual. O autoconhecimento sexual requere
motivação pessoal e uma pitada bem generosa de curiosidade sobre o próprio
corpo (para além do acompanhamento de uma monitora com experiência em saúde
sexual e reprodutiva ou no caso do ciclo menstrual de uma Educadora Menstrual).
Não podemos conhecer o mundo sem antes nos
conhecermos a nós mesmas.
Este é o princípio do
autoconhecimento (e da Educação Menstrual) como eu o trabalho, o sinto e o
partilho: para conhecer os meus limites e possibilidades primeiro estudo o meu
corpo e depois as minhas reacções, as minhas respostas perante a vida. Por isso
o autoconhecimento passa por dominar técnicas de auto-exploração das mamas e
dos genitais externos e internos, do reconhecimento e interpretação dos nossos
ritmos e ciclos e tudo o que estes processos implicam.
Concretamente ao que diz
respeito ao Ciclo Menstrual através
dele podemos conhecer as 4 Capuchinhas (nome com o qual apelidei as 4 fases
hormonais do meu ciclo menstrual no livro “Por
Trás da Capa Vermelha”, que somos, ou seja as 4 fases hormonais que
desenham o ciclo menstrual. Quando falamos das hormonas sexuais femininas do
ciclo menstrual estamos a falar especialmente dos estrogénios e progesterona
mas também estão presentes as gonadotropinas (LH e FSH). As hormonas são a chave
para compreender o funcionamento e comportamento do nosso corpo, assim como a
mente (mas eu prefiro dizer só corpo, porque a dicotomia corpo e mente é uma
explicação cultural-patriarcal errada).
As hormonas do sistema
endócrino são as mensageiras que têm como função manter o equilíbrio interno,
regular as funções básicas e fazer-nos responder perante mudanças criadas quer
desde o interior quer desde o exterior. As hormonas e o comportamento andam de
mãos dadas. As hormonas são a linguagem
interna do nosso corpo.
As hormonas e o comportamento
estão brutalmente correlacionados e por isso vale mesmo a pena conhece-las.
Conhecer as nossas hormonas sexuais femininas dá-nos a chave para conhecer o
nosso corpo (ou seja a nós mesmas) e quais as decisões mais acertadas para nós.
Também é verdade que temos a capacidade de escolha e de decisão e que não
estamos determinas a 100% pelas nossas hormonas mas é verdade que estas jogam
um papel importante no que diz respeito ao como nos movemos, sentimos, pensamos
e criamos.
A menstruação como indicador do estado de
saúde.
Como podes ver o ciclo
menstrual e as suas fases hormonais têm uma importante influência a nível
físico, mental e anímico, de forma individual e a nível cultural assim como
colectivo. Não só por questões fisiológicas mas também por questões culturais
por causa do comportamento e percepção que temos vindo a adquirir em redor ao
próprio ciclo menstrual. Se conhecermos
como funciona o nosso corpo e questionarmos os tabus em redor ao corpo feminino
podemos chegar a viver-nos com prazer, menos vergonha, mais poder e menos culpa.
Isto é o que eu proponho através do autoconhecimento da nossa ciclicidade (do
nosso ciclo menstrual) nos projectos da Confraria Vermelha.
Mesmo com mais informação, com
mais desenvolvimento no campo da ciência, muitas mulheres ainda vivem a
menstruação como uma moléstia, como um peso ou quase como uma doença. Apesar de
termos conquistado o acesso a educação sexual, não nos ensinam a valorizar o
nosso ciclo menstrual, a compreende-lo, a ama-lo e a acolher os presentes que
ele nos oferece, que são muitos.
Ouvir o nosso ciclo (ou seja o
nosso corpo), mesmo quando a sua mensagem vem acompanhada de dor, é de enorme
ajuda para capitanear a nossa experiência vital. As hormonas proporcionam um aumento
de actividade de um hemisfério do cérebro ou de outro, depende da fase do ciclo
menstrual em que nos encontramos. Perceber
a dança das nossas hormonas é uma ferramenta que podemos usar para conectar com
a nossa sabedoria interior e desenhar uma vida mais completa e plena.
Revalorizar e compreender o
ciclo menstrual pressupõe criar um espaço para que as mulheres possamos
construir uma boa relação com a nossa natureza cíclica é o ponto de partida
para viver com vitalidade e poder; O nosso ciclo menstrual influência a nossa
vida sexual, a nossa maternidade presente ou futura, entre muitos outros
aspectos do nosso Ser Mulher. As mulheres temos nas nossas mãos parte do nosso
destino e do destino das gerações seguintes (…).
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Foram 11 questões que
desenharam esta conversa apaixona e sincera, podes ler o resto em Mamã Orgânica.
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