Pintura de Kazuhiro Hori |
Do útero ao corpo
Quando
em 2009 mergulhei de cabeça no autoconhecimento do meu ciclo menstrual comecei
a ter mais consciência das marcas que o patriarcado deixou (e deixa) no meu
corpo.
Não
é difícil constatar que como mulher[i] fui (fomos) criada e educada
dentro de um determinado modelo e a minha necessidade de afecto[ii]
tem produzido mudanças no me corpo.
Explorando
o ciclo menstrual, descendo a minha mente ao corpo, fui tomando consciência
dessas marcas no meu corpo (no nosso corpo de mulheres): útero contraído,
garganta bloqueada, tensão na zona dos ombros, no plexo solar, na zona lombar…
Estas
marcas são as correntes que o patriarcado tem para nos controlar é o que
antropologicamente se conhece por
embodyment, ou seja, como a cultura entra fisicamente no meu corpo (no
nosso corpo). Como o modela e modifica substancialmente.
Trabalhar
o meu ciclo menstrual e (re)conhecer as 4 Capuchinhas/mulheres que habitam em
mim deu-me perspectiva para ampliar a consciência que eu tinha deste embodyment.
Por
exemplo, a nossa forma de caminhar, a forma como desfrutamos da nossa
sexualidade, a nossa postura, a mobilidade da nossa pélvis, depressão, … tudo está
profundamente influenciado pelo nosso entorno.
Não
são precisos anos de pesquisa, para intuirmos que a nossa sexualidade não é igual
a das mulheres brasileiras ou que o nosso corpo se move de forma diferente ao
das mulheres africanas.
Cada
uma de nós mostra através do seu corpo e da sua relação com ele, os desígnios e
valores que a cultura onde cresceu lhe foi imprimindo na pele, na carne e no
osso.
Para
esta temporada de “Compreende o teu
ciclo, vive a tua lua” proponho-vos um desafio: reconhecer juntas as marcas
do patriarcado no nosso corpo e libertarmo-nos delas.
Grande editorial Aida! Obrigada por partilhares estes pensamentos e vontades! Já está na altura de falarmos abertamente sobre as influências de anos e anos sobre o nosso papel social e pessoal, e, acima de tudo, de mostrarmos que estamos despertas para elas. É o primeiro passo para desbravar o caminho que nos leva a sentirmo-nos bem e presentes na nossa própria pele, no nosso próprio corpo.
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