As emoções da minha Ciclicidade: Sensação de Preguiça

A transição da fase ovulatória para a fase pré-menstrual é acompanhada pela sensação de Preguiça da minha Capuchinha Feiticeira



Reconheço-me como uma pessoa produtiva, eficiente e centrada. Por natureza tenho sempre um monte de energia e entusiasmo desenfreado (e positivo) pela vida. Mas estas características tiram sempre uns de dias de férias em cada Ciclo Menstrual, e quando vão de férias surpreendo-me a mim mesma pensando:

“Hoje não me apetece cozinhar”, “Amanhã lavo esta loiça”, “Mais logo termino o post para o blog”, “Esta tarde não me apetece falar com ninguém, vou tirar o som ao tlm”, “”São todos uns parvos”.

Todos estes pensamentos não fazem de mim uma má pessoa[i] nem uma pessoa preguiçosa. De facto, só mostram que sou uma pessoa normal. Dito isto, os momentos de preguiça ou indiferença face ao movimentado mundo, por si sós não são um problema e, ao fim de contas, são uma sensação totalmente normal do meu corpo cíclico. O que realmente é um problema é a forma de me relacionar (de nos relacionarmos) com esta sensação.

Porque se reagirmos como uma atitude automática do tipo: “não importa, não te preocupes” então as nossas escolhas face ao que sentimos (face a nossa vontade e desejos + íntimos/próprios) vai reflectir este sentimento de sermos preguiçosas. Mas se estas sensações têm uma relação com o nosso corpo, certamente que são importantes para nós, que nos preocupam e não nos conformamos com qualquer coisa ou contrariaríamos os nossos desejos agindo de forma automática.

E é neste ponto que eu deito mão do mindfulness[ii]. Tento reconhecer a sensação de preguiça ou indiferença em vez de me identificar intensamente com a sensação de que sou uma preguiçosa ou indiferente e então tenho a oportunidade de responder com uma sensação de calma aos meus desejos.
Assim percebo que essa sensação de preguiça é o meu corpo a responder as mudanças hormonais[iii] que nele operam neste momento do Ciclo Menstrual e que pedem para abrandar o ritmo, para abrir espaço, tempo e confiança ao meu corpo e aos seus desejos próprios. Este abrir espaço, tempo e confiança para o meu corpo “preguiçar” não é fácil numa sociedade como a nossa que sempre esta desperta, activa e produtiva aqui surge sempre um choque de desejos: de um lado esta o que eu (o meu corpo) deseja e do outro o que a sociedade/cultura quere que eu (o meu corpo) deseje. Antes de desesperar com este choque de desejos[iv], lembro-me destas palavras da Clarrise Pinkola Estés:

“Ser nós mesmos provoca que sejamos exilados por muitos outros.
Embora, cumprir com o que outros querem faça com que fiquemos exilados de nós mesmos ”.

E assim com esta frase a fluir na minha mente criei uma Lista de «Estratégias Para Preguiçar» sem culpa. Uma lista para me ajudar dar espaço, tempo e confiança aos meus desejos, ao meu corpo, a preguiça da minha Capuchinha Feiticeira[v] (que mais não é que a minha necessidade de descanso, de tempo próprio e de descer o ritmo na fase pré-menstrual do nosso Ciclo Menstrual).

Estratégia #1 – Acredito na voz das minhas entranhas (adoro a palavra entranhas)
Tudo o que sinto é real. Real para mim. Para quem se não?! A minha intuição é sagrada, é a bússola que dá sentido ao meu mundo e a mim no mundo.
Estratégia #2 – Dizer o que sinto
Não é necessário argumentar esta estratégia, pois não?! Todas sabemos o quanto é libertador dizer o que se sente, certo?!? Não é fácil mas vale a pena tentar.
Estratégia #3 – Respeitar os meus limites e viver a minha preguiça sem culpa
Amar-nos inclui amar os limites e respeita-los. Não respeita-los pode levar-nos a situações catastróficas, como doenças, depressão, insatisfação. Respeitar os nossos limites e erradicar a culpa face as nossas necessidades físicas, emocionais e psíquicas na fase pré-menstrual é destruir a ideia nociva de que o Ciclo Menstrual faz de nós seres débeis, que uma vez por mês se tornam frágeis e que necessitam que cuidem deles (que a ciência com os seus medicamentos nos trate). Alimentar esta ideia desrespeitando os nossos limites e alimentando sentimentos de culpa é perpetuar a descriminação sobre a nossa fisionomia e as nossas capacidades.
Estratégia#4 – O meu desejo é sagrado
A voz do meu desejo é a voz da vida no meu corpo de mulher.
Estratégia #5 – Celebro a diferença
Somos todos diferentes. Querer homogeneizar é o que nos leva a dolorosas amputações físicas, emocionais e psíquicas para tentar encaixar num molde no qual nunca vamos encaixar. No que diz respeito a Ciclicidade, cada mulher tem a sua própria, temos parâmetros de orientação mas são isso, orientações. Não há nada de errado que o teu Ciclo não tenha 28 dias e que o teu sangue tenha uma cor diferente ao da tua amiga cada uma tem a sua própria linguagem, o seu próprio ritmo.
Estratégia #6 – Ficar no meu quarto próprio e fazer a minha síntese emocional.
Escrevi sobre esta estratégia neste POST

Adoro fazer listas, criar jogos e ferramentas para viver a minha ciclicidade mas gosto mais ainda de poder partilha-la convosco, e vou partilhar mais listas, jogos e ferramentas na próxima Oficina do ‘Ciclo Compreendo o Meu Ciclo, Vivo a minha Lua’, estão convidadas! 

Queres descobrir outras emoções e a sua expressão cíclica? 
Aqui tens os outros post da “Emoções e Ciclicidade”.

  1. As emoções da minha ciclicidade: Calma Menstrual »»Ler
  2. As emoções da minha ciclicidade: O que sentes neste preciso momento? »» Ler 



Ilustração Ann Lee


[i] A bruxa má de todas as histórias.
[ii] De forma sucinta Mindfulness significa prestar atenção a um determinado objecto, com intenção, no momento presente e de uma forma não qualitativa
[iii] Pere Estupinyà no seu livro S=EX2 explica o seguinte: «As hormonas do sistema endócrino são mensageiras com a função de manter o equilíbrio interno, regular das funções básicas e fazer que responda quer do interior quer do exterior. As hormonas e o comportamento andam de mãos dadas. (…) As hormonas são a linguagem interna do corpo. (…) As hormonas e o comportamento estão intimamente relacionados, e por isso vale a pena conhece-los.»
Animas-te? Vamos investigar sobre elas no ‘CicloCompreendo o Meu Ciclo, Vivo a Minha Lua’ 
[iv] Algo simples como a gestão das nossas necessidades, das nossas emoções e sensações é o que pode desencadear mal-estar e até certas patologias. Esta gestão tem uma componente cultural na medida em que se aprende e em menor medida uma componente biológica. Ou seja A cultura ensina-nos ferramentas para fazer esta gestão (férias 1 vez por ano, descanso semanal ao fim-de-semana…) mas serão as adequadas para o nosso corpo cíclico? Ou estarão em equilíbrio com as componentes biológicas? Os estrógenos ajudam-nos a manter uma atitude forte, dinâmica e resolutiva perante as situações de stress mas em oposição os progestógenos nos dispõem para estar mais permeáveis perante qualquer acontecimento. Por isso após a ovulação até a menstruação (especialmente 2 dias antes de menstruar) qualquer detalhe pode afectar-nos, angustiar-nos e doer.
[v] Forma como chamo a mulher que sou na minha fase pré-menstrual, podes conhecer todas as Capuchinhas (no mínimo 4) que habitam em mim (e em ti) no Livro “Por Trás da Capa Vermelha”

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