O conto da Capuchinha Vermelha e a urgente necessidade de Reconectar com
o feminino
Na Confraria continuamos a celebrar a semana do livro por isso o post que partilho convosco
hoje fala dos momentos de Iniciação e de Descenso que a Capuchinha Vermelha (que cada uma de nós leva dentro) vai encontrando no seu caminho e que estão registados em “Por Trás da
Capa Vermelha”.
Em algumas versões do conto a pequena menina veste um
capuz vermelho (ou seja eu… tu… nós mulheres) e leva na sua cesta um queijo
para avó que esta doente, o sangue feminino (representado se quisermos na cor
da capa) e o leite (representado pelo queijo) são fluídos corporais ligados à
mulher, mais concretamente à maternidade e fertilidade/menstruação.
O Sangue feminino é supostamente a matéria da
concepção e o leite materno é a sublimação do sangue uterino, acreditava-se que
a mulher retinha o sangue no seu corpo para dar forma/criar o seu filho o que
explicava que as mulheres que amamentam não experimentam os fluxos menstruais
no seu corpo.
Na readaptação que faço deste conto no livro “Por
Trás da Capa Vermelha” (a partir da versão mais antiga que se conhece na
tradição oral), encontramos descritas as etapas da vida da mulher que durante
os tempos foram ritualizadas, momentos de transição: A Menarca (inicio da
menstruação), a Gravidez e a Menopausa, momentos altos do ciclo feminino (dos
Mistérios do Sangue) que vinculam a mulher a lua e a divindade feminina.
Os Mistérios do Sangue sempre foram transmitidos de mães a filhas, pode então dizer-se que a
Capuchinha Vermelha vai visitar a avó com alimentos alusivos à essência da
feminilidade para a fortalecer mas é ela própria, que em muitas das versões
deste conto, a que acaba por os ingerir, pois a avó encontra-se na idade (na
etapa da menopausa) de transmitir os Mistérios do Sangue a sua neta, que esta
prestes a receber o sangue feminino pela primeira vez (a sua primeira Lua) no
seu corpo.
Acreditava-se que a Mulher Menopáusica voltava a reter
o sangue no seu corpo mas desta vez não para gestar uma vida e sim para gestar
sabedoria, o que faz dela uma mulher sábia. O correspondente simbólico desta
etapa é a Lua Minguante, a última etapa da Deusa Tríplice (divindade de
culturas antigas que representava a ciclicidade feminina), a mulher Anciã e
Sábia.
E a neta esta preparada para receber o seu primeiro
sangue (Menarca) e iniciar a sua transformação de menina em mulher, dando assim
os primeiros passos na etapa de Donzela (2ª fase da Deusa Tríplice, deusa de
culturas antigas), equivalente metafórico a Lua Crescente, o ritual do primeiro
sangue menstrual marcava a sua nova condição de mulher.
Neste ponto, penso que o conto, nos dias de hoje
relembra-nos que a capacidade genésica de uma jovem é herdada de uma
antepassada e convida-nos a recuperar esses rituais de transição, essa irmandade feminina (sororidade), da qual falo num
dos contos do livro, que permite resgatar os dons do
sangue que devem ser transferidos das mulheres mais velhas para as jovens.
Esta passagem de menina a mulher remete-nos ao
conceito de morte, da morte simbólica e do renascimento para uma nova etapa. Na
perspectiva da passagem dos mistérios do sangue, estes podem ser transferidos
mas não aumentados, ou seja, a maturidade de uma jovem implica a morte
simbólica de uma das suas ascendentes à condição plena de mulher. Neste ponto
compreendemos como os Mistérios do Sangue envolvem-se num contínuo ciclo de
Vida-Morte-Vida à Mulher.
Somos livres de nascimento… mas quando a mulher entra
na etapa fértil, deve esconder-se, deve esconder o seu sangue, o que é um erro…
Talvez a sociedade em que vivemos esta demasiado preocupada em educar no medo, na
autocensura, na autoprotecção, na desconfiança (quase doentia) em relação ao
resto do mundo! Mas é o Ciclo Menstrual, que tanto se empenham por mostrar como
o ciclo da dor, que renova e faz renascer o nosso corpo-mente, a cada ciclo, para
uma maior confiança e crescimento.
Eu explico, no livro, como vivo, como me amo e as
potentes mudanças que realizo (eu e todas vocês) ao entrar em contacto com o
meu corpo-mente… com o meu Ciclo e ritmos férteis… com o meu Útero.
As mulheres que estão na Menopausa vivem exactamente
os mesmos ciclos emocionais que as mulheres que menstruamos.
Somos MULHERES, com ou sem Útero físico, com ou sem
menstruação, com o sem filhos. Quais são os caminhos que nos permitem essa
plenitude?
O AUTO- CONHECIMENTO
e o
AUTO - RESPEITO
Sou circular. Somos circulares. Não
te perguntes porquê é que o és, és e ponto final. Não te questiones porque as
emoções sempre vão e vêem sem motivo aparente. És tão mulher, tão lua, que sais
e te escondes, cresces e decresces, enches-te e esvazias-te, de tudo e de
todos… não é maravilhoso?
Renovas-te constantemente, só tu decides fazê-lo com dor ou com Amor
Neste conto não só compreendemos a passagem de menina
a mulher na maturidade reprodutiva que a menina está prestes a adquirir mas
também a sua iniciação sexual, mas disso falamos num próximo post.
Nesta semana do livro não esqueças "Boas"
meninas vão para o céu…As "Más" lêem livros, por isso a Confraria
Vermelha quer celebrar o Dia Mundial/semana do Livro com muita
"maldade", portes grátis até
dia 27 de Abril. Aproveita.
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o teu Ciclo Menstrual?
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para ti…
Por trás da Capa
Vermelha – Um
livro-agenda sobre o Ciclo Menstrual
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