Para ti qual é o pior das violências? Eu não tenho dúvidas, é a que
se esconde, a que é silenciada. A que a sociedade em geral ignora ou nega de
forma sistematicamente. As mulheres sofremos várias violências silenciosas… e
entre elas há uma que é normalizada, porque todxs nós entendemos que não há parto sem dor.
Estou a falar da violência obstétrica, aquela que não é reconhecida como a
violência de género, porque não é apenas exercida pelos homens contra as
mulheres, mas também por mulheres contra as mulheres.
Raramente as pessoas se
questionam sobre o que acontece nas salas de parto num momento tão vulnerável
das nossas vidas como é o momento de trazer ao mundo os nossos filhos?
Muitas vezes ouço mulheres que
sofreram violência obstétrica dizer: -Não tenho o direito de reclamar sobre o tratamento
que recebi pois tenho no meu colo um bebé lindo e saudável.
E eu só me pergunto: Como é que
nos fizeram acreditar que sem a sua ajuda não conseguiremos salvar as nossas
vidas e as dos nossos bebés?
Para as que não estão familiarizadas com este tipo violência de género…
O que é a Violência Obstétrica?
Violência Obstétrica é qualquer
ato ou intervenção direccionado à mulher grávida, parturiente ou puérpera, ou
ao seu bebé, que tenha sido praticado sem o consentimento explícito e informado
da mulher/casal e/ou em desrespeito à sua autonomia, integridade física e
mental, aos seus sentimentos, opções e preferências.
Como entender a relação entre violência
de género e maternidade?
Segundo a White Ribbon Alliance
for Safe Motherhood: “Por a maternidade ser específica às mulheres, as questões
de igualdade de género e violência de género também se encontram no cerne dos
cuidados maternos. Assim, a noção de maternidade segura deve ser expandida para
além da prevenção da morbidade ou mortalidade e incluir o respeito dos direitos
humanos básicos das mulheres, incluindo respeito pela autonomia, dignidade,
sentimentos, opções e preferências das mulheres.”
Esclarecidos estes dois pontos
começam as perguntas:
- Quem é que não conhece mulheres com cicatrizes na vagina, no períneo, no abdómen, no útero ou que tenha sofrido gretas dolorosas no peito, porque ninguém as orientou de forma eficaz e humana antes de começar a amamentar o seu bebé?
- Quem é que não conhece mulheres que relatam o parto como um pesadelo?
- Que mãe não se sentiu culpada com comentários como lamentáveis e equivocados como "o teu leite é ruim" ou "não tens as medidas certas (constituição física) para parir"?
- Até quando é que nos vai parecer normal que alguém na sala de parto nos diga "cala-te e puxa" ou “não grites que vais assustar as outras” e nos surpreenda ouvir "esta a correr muito bem e estas a fazê-lo lindamente"?
E faço estas perguntas porque
vejo estatísticas que indicam que num ano (2011): 53.3% dos partos são estimulados com
oxitocina sintética, 19.4% são partos induzidos; em 41.9% partos eutócicos ocorre
episiotomias, 19.5% são partos instrumentais; 87.4% as mulheres parem deitadas
em litotomia; a manobra de Kristeller é usa em 26,1%, que as cesáreas não
necessárias ocorrem num 21.9%.... etc, etc
Até estes números
desaparecerem vou gritar que
a violência obstétrica existe e é violência de género.
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