“Você precisa
ser a mudança que quer ver no mundo” Mahatma
Gandhi
“Cultura é o que fica depois de se esquecer tudo o que foi
aprendido “André Maurois
“A arte é um instrumento de educação” Desconheço o autor
"O feminismo é a ideia radical de que homens e mulheres têm os
mesmos direitos"
Escrevi
este post para falar de uma música, e motivada por um post no facebook que aqueceu os ânimos, mas quero deixar claro que podia ter pegado
em muitas outras, que despertam em mim as mesmas questões, podíamos falar do Robin
Thicke, do Daddy Yankee entre outros e outras, agora não me lembro de mais nomes (sou péssima com os nomes)… mas o importante não são os nomes mas sim
a provocação e as atitudes sexista na música. Não sei se as vezes este sexismo
é inconsciente devido a normalização de tantas atitudes machistas na nossa
sociedade. Mas a verdade é que são estas atitudes machistas, muitas vezes legitimidades
pela sociedade, que são visíveis no hip-hop, no reggaeton ou em temas do pop da
moda. Estas atitudes não são um problema moral mas sim de representação da
sexualidade feminina. Ninguém tolera uma música racista ou homofóbica mas sim
que degrade a mulher. Criticamos a Miley Cyrus mas não dizemos nada do Thicke,
do Daddy, do este ou do aquele. Na verdade é que há letras com um sexismo mais
evidente e outras mais encoberto, e é exactamente aqui que residem as armadilhas
do sexismo quotidiano e da violência simbólica contra as mulheres.
Como eu vivo
em Portugal esta música que mexeu comigo é portuguesa, as outras também mexem e
a prova esta aqui, mas esta música esta escrita numa das minhas línguas maternas (o portugês),
fala da “realidade” das mulheres e homens do país onde vivo e talvez por isso me
levou a escrever este post.
A música em questão “Mereces mais” do JêPê
Mereces
mais que momentos ocasionais
agires,
fazer e só depois pensares
sais à
noite e bebes ao ponto de nem te lembrares
ya, a
vida é tua como também é a reputação que lhe dás
foste
crescendo sem querer saber de opiniões alheias
entre
noites, gajos e bebedeiras
curtias
por curtir, beijavas por beijar
até ao
ponto em que fodias sem padrões a respeitar
O que é
que o sexo ocasional tem de mal?
Porque é que os homens e as mulheres que têm
sexo ocasional não podem ser vistos como iguais, elas são mulheres de má
reputação e eles são os Casanova ou então são todos, homens e mulheres, uns inconscientes
por terem sexo ocasional?
Porque
é que o sexo ocasional com um/uma ou vários parceiros/parceiras dá má reputação
seja homem ou mulher (mas principalmente mulher)?
Porque
é que o sexo tem que ser visto como algo inquinado, que “dá má reputação”
quando não é praticado com “padrões a respeitar”? Que “padrões” são estes?
Homens
e mulheres levam séculos a viver uma sexualidade secundária graças a influência que a educação/moral judaico-cristã
(entre outras coisas) tem na nossa sociedade, será que não estamos a reproduzir
valores de moral duvidosa criticando o prazer (é isso que é o sexo ocasional)
de forma negativa?
Porque é que usar o sexo como diversão é negativo? Porque é
que a diversão e o prazer do sexo ainda são tabu? Porque é que uns (homens) se podem
divertir mais do que outras (mulheres)?
Sou eu
que me dou uma má reputação ou és tu (o tu refere-se aos tais 90% de homens que
a letra menciona) que avalias à luz dos teus preceitos morais os meus actos e
atribuis etiquetas a minha forma de ser, sentir e viver? E se tu deixasses de me
julgar como seriam as coisas? E se eu (mulher) e tu (homem) e todos os outros (os
que não se consideram nem homens nem mulheres) pudéssemos viver a nossa
sexualidade sem temer a opinião de seja lá quem for?
Como
seria uma canção que falasse sobre esta liberdade? Que falasse de um sexo livre
e sem pré-conceitos de nenhum tipo? Uma letra que falasse de respeito por todos
os seres humanos e pela sua sexualidade num todo, porque o sexo é apenas uma
das muitas expressões da sexualidade humana?
a
consciência sempre te pesou, mas só no dia seguinte
porque
mais noites vieram, sem que isso te impedisse
aquilo
que não percebes, é que os gajos com que o fizeste
se
gabaram aos amigos da forma como o fizeste
como é
que eu sei? Ouve, eu sou um homem
e por
mais que fale contra mim sei o que é sê-lo
não
subscrevo que sejamos todos iguais
mas 90%
de nós partilha as experiências sexuais
e tu?
Tens sido tema de conversas
sobre
como e a facilidade com que abriste as pernas
e isto
não é censura, só esclareço aqui
que se
tu não te respeitas, não é nenhum de nós que o vai fazer por ti!
Para
quando uma música de um homem para os outros 90%? Chamando-os a atenção do seu
comportamento? Porque é que temos que continuar a ser nós mulheres a adaptar as
nossas atitudes, a inibir os nossos desejos, a educar as nossa emoções e
pulsões vitais em detrimento dos homens para sermos aceites e não criticadas?
REFRÃO
Repete
comigo
não
acredito que ele tenha feito o que fez sem se gabar a um amigo
Repete
comigo
fingir
que nada aconteceu é o primeiro para repetir o sucedido
E nós
não queremos isso, tu não queres isso, se eu quero isso?
nã, já
quis, mas hoje sofro contigo
Esta parte como refrão torna-se a mais evidente de
toda a letra, e assenta em clichés e estereótipos comportamentais que se
arrastam ao longo dos séculos e assenta na filosofia de que o homem é que sabe,
o homem é que "manda" e a mulher obedece tal qual um autómato (o refrão:
repete comigo...). Faz lembrar a época em que os direitos da mulher primeiro pertenciam ao
pai ou irmão mais velho e depois ao marido
E até me podem dizer: …mas na letra o homem está solidário
com a mulher e só esta alerta-la.
Quanto a isso só tenho uma coisa a dizer: não
podemos ter dois pesos e duas mediadas, pois não? Não podemos criticar e dizer
que não o estamos a fazer, pois não? Eu ao escrever estas linhas estou a
criticar, estou a emitir a minha opinião sobre esta letra e sobre o que ela me
provoca assim como esta letra critica a forma de actuar de algumas mulheres. E
a minha eterna pergunta é: Porque não criticamos directamente os homens que
fazem comentários depreciativos sobre as suas conquistas? Se sou esta ou aquela
porque é que foste para acama comigo?
Não
queiras ser o tipo que só serve de escape entre uma relação e outra
um
orgasmo com noite, ou um bom fim de noite sem roupa
porque
isso torna-te numa gaja que até pode vir a mudar
mas vai
ser sempre difícil de assumir ou respeitar
na
nossa cabeça, quanto mais facilmente ficas nua
mais
difícil és mulher para andar de mão dada na rua
infelizmente
é a sociedade em que vivemos
se tu
fazes o que fazemos, ganhas definições diferentes
e eu
sei que não sou ninguém para o fazer
Esta parte da música faz-me
pensar: Esta forma de entender a sexualidade esta medida em função do critério de
desejo masculino, na qual o desejo feminino não existe, caso exista, esta
subordinado ao masculino. Esta crença faz com que em alguns encontros eróticos,
o papel feminino seja o que trave enquanto o masculino está centrado em chegar
a meta estabelecida socialmente: penetração e orgasmo. O caldo esta entornado
quando as mulheres também desejam a mesma meta. Não podemos ter todos, homens e
mulheres, o mesmo desejo?!?!?!?!?
Esta ideia de que a mulher
deve travar, colocar limites e que o homem não tem porque o fazer porque é
responsabilidade dela, pois é ela que vai ficar com má reputação, leva-nos a uma
limitação do prazer:
1- É
limitador para a mulher, pois tem que centrar toda a sua atenção durante um
encontro em evitar que se pense dela estas coisas, coisas que não são de todo
verdade… Será que somos mais ou menos mulheres por ter tido vários parceiros/parceiras? Por querer ter uma noite de orgasmos?
2- Mas
este tipo de pensamento (um orgasmo com noite, ou um bom fim de noite sem roupa)
também é limitador para o homem que subordina o prazer a ejaculação e ao
orgasmo (quando na verdade são dois processos diferentes).
Deste modo
se a nossa atenção, enquanto mulheres, esta focada em travar ou acelerar, a tentativa
do homem em avançar, em função do que vão dizer de nós faz com que não estejamos a desfrutando
realmente do caminho, do encontro, da partilha. E para além disso dificulta o
descobrir dos nossos próprios desejos, o descobrir da nossa sexualidade sem medo
a julgamentos, já que não nos é permitido explorar sem estar preocupadas com o
que vão dizer de nós… ou seja podemos explorar a nossa sexualidade e ter sexo
mas dentro da normativa social… E aqui volta à minha mente a mesma questão, que
não querer calar: Porque é que temos que ser nós mulheres a repetir contigo
(homem/homens) e não repetes tu (homem/homens) comigo (mulher/mulheres): “As
mulheres têm os mesmos direitos sexuais que os homens e NUNCA devemos criticar
NENHUMA mulher pela forma como expressa a sua sexualidade e como disfruta do
sexo”
E que tal
uma musica dirigida, directamente, a esse 90% de homens mostrando-lhes como
esta mal a sua atitude?
e que
provavelmente me vais apontar o dedo por fazê-lo
mas sei
também que se não for eu, ninguém o vai fazer
e que
tu me vais agradecer mais tarde ou mais cedo
a
verdade é que nós somos iguais, erramos e crescemos
mas o
machismo sobrepõe os vossos erros
no
fundo e sendo justo, só existe um argumento
ninguém
quer ficar com alguém que já esteve com toda a gente
Aqui não surgem perguntas na minha mente mas sim as palavras
de Florence Thomas: “ Nem santas, nem bruxas, nem putas, nem submissas, nem histéricas
mas sim mulheres redefinindo esse conceito, enchendo-o de múltiplos conteúdos capazes
de reflectir práticas novas de si mesmas que a nossa revolução nos entregou;
mulheres que não precisam de amos, nem maridos mas sim companheiros dispostos a
tentar reconciliar-se com elas desde o reconhecimento imprescindível da solidão
e da necessidade imperiosa de amor… “
REFRÃO
Repete comigo
não acredito que ele tenha feito o que fez sem se gabar a
um amigo
Repete comigo
fingir que nada aconteceu é o primeiro passo para repetir
o sucedido
E nós não queremos isso , tu não queres isso, se eu quero
isso ?
nã, já quis, mas hoje sofro contigo
Seja homem ou mulher, nada é diferente
ninguem quer ficar com alguem que já esteve com toda a
gente
Que no final da música apareça “Seja homem ou
mulher, nada é diferente” não apaga todas as ideias que foram transmitidas até
aqui…
Quero deixar claro que centrei as minhas questões no
sexo e na sexualidade mas também o poderia fazer nas ideias de amor que as
entrelinhas deixam passar, que falam desse amor que faz de nós (homens e
mulheres) objectos e não sujeitos, esse amor carregado de ideias utópicas e de
mitos que tornam homens e mulheres infelizes e nos faz sentir frustrados ou em
outros muitos mitos dos relacionamentos sexo-afectivos entre
seres humanos, mas como o tema da música esta centrado nos encontros sexuais ocasionais
e de como estes fazem de nós seres humanos mais dignos ou menos dignos de uma
boa reputação, centrei as minhas questões no sexo.
E são isso mesmo, questões… nada do que digo é para
mim uma verdade absoluta e inquestionável por isso também não pretende que seja
para ninguém. Gostava isso sim que fosse o ponto de partida para reflectir,
para desconstruir e construir ideias novas, para debater, para fazer pensar…
Texto escrito: Aida Suárez
Qual é a vossa opinião sobre a letra desta música?
Concordo inteiramente com o que escreveste!!! Estou incrédula como é possível que em 2013 alguém ainda pense assim!
ResponderEliminarMuito triste perceber que artistas que se dizem de mente aberta alegadamente não têm mais do que egos demasiado altos e não devem aceitar outra crítica que não sejam "oh sim... és demais! esta música é espetacular e tal"... e que qualquer crítica que saia desse âmbito é eliminado. Ontem chamaram-me à atenção para uma determinada música de um artista que eu não conhecia (confesso que hip hop não é a minha praia), ouvida maioritariamente pelos nossos teen e eu ouvi, uma vez... uma e outra vez até perceber o sentimento que se revelava cá dentro. Ponderei se haveria de escrever e escrevi um breve comentário, porque eu acho que a mudança parte de nós, e nós podemos fazer sempre um bocadinho mais se quisermos... é preciso mudar mentalidades, mudar atitudes com "pré-conceito", é urgente aproximar os géneros no que respeita a igualdades (direitos e deveres). Assim, decidi comentar na página de Facebook do artista e no youtube... uma crítica construtiva talvez para uma próxima canção, que não foi do agrado deles e, como tal, foi eliminado... tudo bem... estão no direito deles de fazerem o que querem na gestão da página que é deles. O músico de quem falo é o Jêpê e a música é "mereces mais". E eu penso, Ah sim... eu mereço mais, mais respeito pelas mulheres e mais e melhor música... eu e todas as mulheres deste mundo e os homens também...
ResponderEliminarA minha aprendizagem disto é que, como pais, é preciso estar bem atento ao que é lançado no mercado...
Sei que estou a fazer publicidade ao músico mas pouco me importa. Desejo que tenha o maior sucesso mas esta música para mim é mesmo deplorável e a atitude não se ficou atrás da música...
"Não conhecia a música... ouvi-a um par de vezes, refleti sobre o que ela me fez sentir e venho aqui deixar a minha opinião. Acredito que o objetivo da música seja a de alertar e ajudar mas a forma como foi feita, na minha opinião não foi a mais correcta já que ela assenta em clichés e estereótipos comportamentais que se arrastam ao longo dos séculos e assenta na filosofia de que o homem é que sabe, o homem é que "manda"e a mulher obedece tal qual um autómato (o refão: repete comigo...). Esta é uma música que sinto não gostar que os meus filhos a possam ouvir porque é, do meu ponto de vista, sexualmente muito condicionante. A sociedade em que vivemos é feita de pessoas, é de nós que parte a mudança e parece-me que o compositor/cantor perdeu uma belíssima oportunidade de fazer algo mais construtivo, algo que poderia até servir de pilar a uma verdadeira educação para a igualdade de género em deveres e direitos sexuais (não friso os outros porque aqui estamos a retratar comportamentos sexuais). Caramba! temos (nós mulheres) nas nossas células longos séculos de subjugação sexual, instrumentação da mulher como objeto sexual e tanto sentimento de culpa imposto pelo simples facto de possuirmos uma vagina! em pelo seculo XXI ainda se mutilam genitalmente mulheres em países por acharem que só o homem pode sentir prazer sexual!!! Fiquei tão triste ao ouvir esta música... ocorreu-me desde logo a eterna guerra entre a santa e a puta quando cada mulher deve ter as duas no seu corpo (tipo lady na mesa/louca na cama como o Marco Paulo tão bem cantou). Não é hora de dizer basta?! Bora mudar? renovar pensamentos e atitudes? Contribuir efetivamente para uma responsabilização sexual de ambos os sexos e não apenas na última parte da música que mal se percebe por causa da adulteração da voz e que deveria assentar em sexo responsavel, informado e consciente. Let's think outside de box"
Cristina Pires da Silva
Ontem ouvi esta música, reflecti sobre ela (sobre a dita mensagem que expressa), agora vim aqui exprimir a minha opinião, como mulher, como ser pensante autonomo, que nao precisa que nenhum homem diga, mande ou faça o que quer que seja para eu 'fazer e calar' , continuar a alimentar esta maldita dictomia entre a santa e a puta. Pois bem, estou triste com a 'essencia' desta musica, com o que ela expressa e a forma como retrata e generaliza os relacionamentos, homens e mulheres. É muito triste, pensarmos que se fosse o sexo oposto faria o mesmo, e que o vizinho do lado tambem diria o mesmo, por isso 'eu' tambem faço e desculpo-me com isso, pois, mas eu nao conheço nem uma pessoa que fizesse o mesmo. Esta música revela uma parte da sociedade que continua a pensar como na antiguidade, vamos lá renovar esses pensamentos, mudar os cliches, e fazermos realmente aquilo que deve ser feito, em vez de contribuirmos mais para o buraco negro que é a descriminaçao da mulher. Artista tem uma missão, a missão de abrir explorar a emoção estética, foi tudo o que nao é feito nesta música plo contrário. Artistas desde pedacinho de mundo vamos lá fazer realmente arte, abrir mais mentes, em vez de as fecharmos ainda mais ;)) fiquem bemmmm! Grata!
ResponderEliminarRita Santos
Que triste que este rapaz ache que esta letra/música é uma espécie de intervenção pela dignidade feminina... Quando é apenas uma velha ideia de que as coitadas das mulheres precisam de um papá para lhes dizer que moral ter, porque são umas vítimas das bocas alheias .. dos homens maus que falam delas por andarem na má vida. Isto o que parece é um record de tristes ideias pré-concebidas...tanto para mulheres como para homens...para além do velho e podre moralismo! Cada um sabe de si...da sua sexualidade...da sua "conduta"...se não se quiser ver isto como uma questão feminista, que seja uma questão de soberanía individual. Sinceramente...achar que uma mulher precisa que lhe digam como se comportar para "ser feliz e encontrar alguém que queira ficar com ela"...só de escrever esta frase dá-me tristeza...isso chama-se infantilizar mulheres e as pessoas no geral...o arcaico de que a mulher necessita homem para resolver a vida, e de alguém que lhe lembre que deve manter uma "boa moral". A intervenção mais básica que partilharia com este moço é que respeitasse a individualidade e soberania de cada ser, e se preocupasse com a única "conduta" que lhe diz respeito...a sua. A soltar amarras gente!!!!!
ResponderEliminarQuem deveria estar a assistir a toda esta discussão era a rapariga que apareceu no clip...que assumiu representar o papel de mulher submissa e tolinha...e que seria interessante dar-se conta da mensagem degradante que passa como mulher....os meus pêsames!
Nídia Fernandes
Aposto que muitas mesmo muitas mulheres devem cantar esta música cheias de garra! O que é uma pena... é por estas atitudes e por estas músicas que trazemos tantos séculos de culpa, de vergonha, de repulsa, de opressão do prazer e felicidade! Não gosto desta música e gostava que todas as mulheres pensassem sobre ela... se não gostam porquê e se gostam também deviam questionar isso! Em resposta a esta música só penso no belo poema que me deste a conhecer Aida! E que acho que devia ser posto em música! Isso sim! Aqui fica <3
ResponderEliminarhttp://elsenderodemisdias.blogspot.pt/2010/10/mi-agradecimiento.html
Boa! É um assunto que tenho vindo a pensar e que me parece muito pertinente de discutir, particularmente no RAP, porque gosto de ouvir e conheço diversxs.
ResponderEliminarComeçando pela cultura hip hop. Diversas letras de rap em Portugal revelam discursos sexistas e homofóbicos essencialmente. O hip hop é mais do que entrar no estúdio, meter um cap de 40€ na cabeça, fazer um beat, fazer umas rimas e postar um clip bonitinho para ter “likes”. Penso que falta cultura de base a alguns rappers (coisa que não sou), começar por conhecer quem é Afrika Bambaataa podia ser pertinente. Ele é o criador oficial do movimento hip hop (dj, mc, graffiti e breakdance) e fundador da Zulu Nation que se baseia na paz, na união, no amor, no conhecimento, na liberdade, na justiça e na igualdade. Coisa que a música do Jêpe e de outrxs não revelam em nenhum momento. A minha perspetiva é que o rap deve ser uma arma de educação, protesto, mudança, empoderamento e emancipação.
Por outro lado, na minha perspetiva feminista, esta música (como tantas outras) não traduz consciência crítica nenhuma para quem a ouve, pelo contrário:
•Reproduz uma masculinidade dominante e hipersexualizada (que é opressora dos homens);
•É opressora da liberdade sexual das mulheres;
•Reforça a relação de poder Homem Padrão vs Mulher Submissa;
•Reforça a ideia o homem é um herói se tiver mil parceiras, se for uma mulher é uma puta;
•O discurso é bastante paternalista, sexista e machista.
Era nice ter mais rap de qualidade a combater discriminações e assumir um discurso promotor da Igualdade, da Não Discriminação, da Liberdade e da Justiça Social. Coisas importantes…digo eu. Até porque quem está começar e/ou a explorar precisa de bons padrões de representação do rap.
Fixe o teu exercício de desmontar a letra, podia ser algo interessante a fazer com o pessoal que está a explorar o rap e a escrita criativa.
Uma dica - “Eu não adquiro o vosso rap nem que o ponham para download” – Chullage
Ass: Ricardo
Sem Justiça Não Há Paz
Impera ver mais longe.
ResponderEliminarO facto de retratarmos uma realidade quotidiana e reincidente na nossa realidade não torna essa mesma realidade aceitável.
De facto é uma verdade que os homens e as mulheres esperam sempre que o seu parceiro corresponda às suas próprias expectativas. Esperamos sempre que o outro faça aquilo que esperamos dele para nos sentirmos bem connosco próprios, seguros, amados, importantes... seja por que razão mantemos uma e qualquer relação, essa razão é esperada ser colmatada pelo nosso parceiro.
Existe muitos estereótipos na nossa sociedade. Demais mesmo. Existem estereótipos até para o conceito de relação amorosa. Mesmo para as não convencionais existe um estereótipo bem definido.
A meu ver o mais importante a ter em foco numa relação com o teu parceir@ é que te mostres exactamente como és e que seja aceite pelo que és. Se isso é ter uma relação convencional de acordo com ambos, tudo bem mas também pode não corresponder a nenhum dos conceitos existentes na nossa sociedade. Aliás até é o mais provável, visto que somos todos diferentes. Pois eu não acredito na igualdade de géneros. Como podia? Somos de intrinsecamente diferentes. Eu tenho uma vulva e tu tens uma pila. Mas acredito que a equidade é a forma mais justa de lidar com essas diferenças.
Porém os nossos condicionamentos são tantos e de tal forma inconscientes que acabamos por estar numa relação por comodismo e insatisfeitos exigindo do outro o dever de nos fazer sentir felizes, desrespeitado a sua essência e a sua vontade.
E é assim que surge o apontar de dedo: "Tu devias isto e aquilo mas como não fazes, não és, nem correspondes às minhas vontades portanto não prestas, és isto e aquilo!.." E a mulher é mais melindrada do que o homem pois existem mais condicionantes e expectativas para esta, tanto actualmente como por hereditariedade de um passado histórico patriarcal.
Por tudo isto, sim, acho esta musica ofensiva e nada pró-mulher mesmo nada pró-sociedade.
Não acredito que retratar uma realidade seja uma solução, mais ainda se estamos a retratar uma realidade que não nos agrada e que vemos acontecer connosco e á nossa volta, principalmente se estamos num plano de foco da sociedade onde lidamos com as camadas mais jovens e onde somos influentes nessas mesmas massas.
Seria muito mais producente se em vez de se retratar o problema pudéssemos dar uma solução ou melhor dizendo uma sugestão de solução. Uma que não focasse o problema que a originou mas sim a sua solução.
Agora apontar mais um dedo enquanto milhares de dedos já estão apontados não faz sentido nenhum.
Lou
Jêpê tens que ter mais educação e respeito pelas mulheres. A letra da música é abominável, e demonstra que é mais uma música que tenta vender pelo lado mau, mesmo mau. Infelizmente o lado mau ainda vende. Isto não é música, é lixo e um desrespeito pelas mulheres, além de ser machista e canalha.
ResponderEliminarToda esta letra é verdadeiramente insultuosa! Este discurso sexista, machista, opressor, em pleno sec. XXI, surge bizarro para mim. Jovens que supostamente deveriam ter uma consciência assente na liberdade, igualdade e respeito, na verdade, possuem uma visão e uma postura totalmente patologicamente distorcida, altamente paternalista, moralista... onde o respeito pela mulher é inexistente. Fico estupefacta com o agrado que verifiquei por parte de mulheres em relação à letra! Isto é sintomático da pesadíssima influência de uma sociedade patriarcal, moralista, castradora, dominadora na matriz inconsciente da mulher.
ResponderEliminarCabe a cada um de nós, nem que seja por via de textos como este, ajudar a promover um pensamento mais limpo e assente no respeito pelo outro.
Ao ouvir a música senti a "eterna" culpabilização que recai sobre nós (mulheres) pelo comportamento que outros (geralmente homens) exercem sobre nós.
ResponderEliminarAna
Bom, já é a segunda vez que tropeço nesta música e nos ânimos e opiniões inflamados que ela espoleta, por issoi resolvi tb dar a minha visão. Se eu concordo que a música e a mensagem que transmite é abjeta? Sim, concordo. Se eu gostaria que a minha filha ou o meu filho a cantarolassem? Não! Mas o que me apetece é referir o comentário feito pela feminista Gloria Steinem a propósito da história da Miley Cyrus: "I think that we need to change the culture, not blame the people that are playing the only game that exists". Espero ser capaz de transmitir aos meus filhos os princípios e valores que lhes permitam olhar de forma crítica para esta e outras músicas, histórias, episódios e atitudes e que sejam capazes de lhes virar as costas, criticá-las e saberem claramente qual a sua posição relativamente a elas. Essa é a parte que depende de mim. Obrigada por me lerem :-)
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