'Espelho, espelho meu há alguém mais… do que eu”
Se ficarmos pressas nos contos da Disney, a primeira reflexão sobre o
espelho será sempre um questionamento do ego sobre si mesmo. Mas o espelho
nunca responde, ou melhor nunca discorda, ao contrário, o seu silêncio eternamente
cúmplice se faz íntimo das mais desmesuradas comparações.
Mas não nos deixemos agarrar, pelos contos da Disney, o espelho que é
frequentemente associado a um símbolo feminino na sua forma positiva não
esta associado a vanidade mas sim a própria imagem e a capacidade para a
realização pessoal, por exemplo o Mito de Amaterasu, ferida no seu corpo e na sua alma
esconde-se numa caverna, os deuses desesperados reúnem-se e traçam um
estratagema. O deus da inteligência, Omoikane, pediu a todos que comparecessem
ao redor da caverna para colocar um espelho apontando para a entrada. Pediram a
Uzume, a mais engraçada das deusas, que os distraísse diante da gruta fechada
em que Amaterasu estava amuada. Uzume não usou de meios-termos: pôs-se a dançar
provocantemente, exibindo as suas partes íntimas com caretas irresistíveis.
Estava tão divertida que os deuses desataram as gargalhadas... Curiosa,
Amaterasu não aguentou: entreabriu a pedra que fechava a gruta, e os
deuses direccionaram para ela o espelho onde ela viu uma mulher
esplêndida. Surpresa, saiu um pouco mais para fora e os deuses agarraram-na e
Amaterasu saiu para sempre de sua caverna celestial. O mundo estava salvo.
É um facto todas temos defeitos e virtudes mas estamos habituadas a ver
apenas o primeiro e a tirar o açoite para fora e fustigar-nos pelos nossos
defeitos… para muitas de nós é muito difícil ver que temos tantas coisas boas e
aceitar essa outra parte de nós que não gostamos tanto. Também acontece, que
muitas de nós não nos sentimos confortáveis com alguma parte de nós e quando é
assim é porque há algo que palpita cá dentro e que quer sair… pensem bem e
libertem as asas, o autoconhecimento não tem limites e é sempre surpreendente.
E quando falamos do corpo, do corpo físico muitas vezes o “não gosto de…”
multiplica-se e corremos para esconder o corpo, com roupas largas, com
pinturas, sapatos de tacão, deixando cair os ombros para a frente,
com este e com aquele truque para esconder isto ou aquilo…. Etc, etc… Na
verdade muitas de nós no passado ou no presente não fomos/somos naturais porque
sentimos que devemos gostar a toda a gente e claro actuar em função daquilo que
achamos que é esperado de nós e isso é esgotador… E no final terminamos sempre
por não nos sentir confortáveis, por isso uma coisa é clara se alguém gosta de
ti pelo que és, perfeito e se não gosta perfeito também! E aqui surge o grande
chavão: Não podemos agradar a toda a gente!!! E é bom que assim
seja, porque se toda a gente gostasse a toda a gente o mais certo é que fossemos
todos clones…
DESAFIO 1
Vamos olhar-nos no espelho e vamos despir-nos pouco a pouco,
vamos soltando os “sete véus” e vamos observar o nosso corpo nú… vamos observar
cada uma das suas curvas… cada uma das suas marcas visíveis e invisíveis…. Cada
parte de pele, cada osso conta um pedaço da nossa história. Observem o vosso corpo
despido diante do espelho e pensem:
Como seria o mundo se as mulheres pudéssemos sentir o nosso corpo com todo
o seu poder? Como seria o teu mundo se tu vivesses o teu corpo livre de
complexos? Como seria senti-lo com naturalidade?
Fazes ideia do que esta desconexão do corpo significa?
Quanta repressão faz falta para viver esta situação: as mulheres estamos
fortemente separadas dos nossos corpos. Como chegamos aqui, como chegaste aqui?
DESAFIO 2
Depois convido-vos a permanecerem nuas e pintar o vosso corpo, fazer um auto-retrato
de corpo inteiro e nesse auto-retrato já podem colocar roupas, mas não roupas
têxteis e sim roupas que alimente o vosso corpo e a vossa alma, vistam-se com
auto-estima, carinho, auto-aceitação…. O que mais gostarem e sentirem. Imaginem
uma mulher apaixonada do seu próprio corpo. Uma mulher que acredita que o seu
corpo é suficiente tal e como é. Que celebra o seu corpo como um companheiro
digno de confiança e os seus ritmos e ciclos como um recurso delicioso. Se desejarem podem partilhar connosco as vossas criações vamos amar. (jardineriahumana@gmail.com)
“O corpo é um ser multilingue Ele fala através da cor e da
temperatura, do rubor do reconhecimento, do brilho do amor, das cinzas da dor,
do calor da excitação, da frieza da falta de convicção. Ele fala através do seu
bailado ínfimo e constante, às vezes oscilante, às vezes agitado, às vezes
trémulo. Ele fala com o salto do coração, a queda do ânimo, o vazio no centro e
com a esperança que cresce.
O corpo se lembra, os ossos se lembram, as articulações se lembram. Até
mesmo o dedo mínimo se lembra. A memória se aloja em imagens e sensações
nas próprias células. Como uma esponja cheia de água, em qualquer lugar que a carne seja
pressionada, torcida ou mesmo tocada com leveza, pode jorrar dali uma
recordação.
Limitar a beleza e o valor do corpo a qualquer coisa inferior a essa
magnificência é forçar o corpo a viver sem seu espírito de direito, sem sua
forma legítima, seu direito ao regozijo. Ser considerada feia ou inaceitável
porque nossa beleza está fora da moda actual fere profundamente a
alegria natural que pertence à natureza selvagem.
As mulheres têm bons motivos para refutar modelos psicológicos e físicos que são danosos ao espírito e que rompem o relacionamento com a alma selvagem. E claro que a natureza instintiva das mulheres valoriza o corpo e o espírito muito mais por sua capacidade de vitalidade, sensibilidade e resistência do que por qualquer avaliação da aparência. Esse ponto de vista não pretende descartar aquilo que seja considerado belo por qualquer segmento da cultura, mas, sim, traçar um círculo mais amplo que inclua todas as formas de beleza, forma e função.”
As mulheres têm bons motivos para refutar modelos psicológicos e físicos que são danosos ao espírito e que rompem o relacionamento com a alma selvagem. E claro que a natureza instintiva das mulheres valoriza o corpo e o espírito muito mais por sua capacidade de vitalidade, sensibilidade e resistência do que por qualquer avaliação da aparência. Esse ponto de vista não pretende descartar aquilo que seja considerado belo por qualquer segmento da cultura, mas, sim, traçar um círculo mais amplo que inclua todas as formas de beleza, forma e função.”
Sem comentários:
Enviar um comentário