A boa menina

   



Ficou gravada a ferro e fogo na minha cabeça aquela professora da pré [1], na verdade ficaram gravada as suas palavras, as suas acções:  “Tens de ser uma boa menina e…” blá, blá, blá.

Para aquela professora (e para muitas outras pessoas) ser uma ‘boa menina’ era ser sossegada, sentar-me correctamente com as pernas fechadas, não falar muito, não sujar o vestido.. Resumindo ser limpa, quieta, submissa, dócil, assexual, obediente, silenciosa, passiva.. e fico por aqui!

Penso, que a todas nós, mais ou menos, já nos leram esta cartilha. Eu era demasiado curiosa para renunciar ao meu potencial, a minha vitalidade e energia. A minha maneira de ver as coisas.

Sempre tive dificuldade em ceder à pressão dos adultos para moldar o meu comportamento talvez porque sempre tive o apoio da minha mãe para ser como era. Como sou. Mas a nossa tendência é renunciar a quem somos porque temos medo da falta de amor e aceitação por parte dos seres a quem estamos ligadas emocionalmente. 

Contudo, todas nós, em maior ou menor medida, terminamos por ceder aqui ou ali e sermos domesticadas. Permitimos que nos digam o que fazer, quando e como. Algumas de nós deixamos de subir as árvores, outras deixamos de demonstrar o nosso descontentamento, a nossa raiva… e por vezes deixamos de ser quem somos e até de sentir.

Voltando a minha professora, ela insistia que eu tomasse como exemplo outras meninas da turma que tinham cedido mais rapidamente do que eu a ser ‘as boas meninas’. Havia dias nos quais pintava dentro das margens do desenho e que fazia as coisas como as outras meninas mas era tão aborrecido, tão descolorido não ser eu, que rapidamente a minha curiosidade corria livre e a professora me chamava a atenção. 

Confesso, que sempre tive dificuldade de esconder os meus dons e habilidades, dificuldade de não destacar pela simples razão de ser como sou, ou seja, de não ser um clone da ‘boa menina’ desenhada pelo pai patriarcado.

Houve dias nos quais consegui mas aprender a ser mais uma, era difícil. Aprender a ficar calada e não me expressar, era uma tarefa epopeica para mim.

Sei que esta renúncia interior é algo, que grande parte dos seres humanos, conseguimos fazer e fazemos. No caso de nós, mulheres, devido a educação que tradicionalmente temos recebido, e que é diferente da que é dada aos homens, quando renunciamos estamos a renunciar a algo muito importante: ao nosso corpomente.

A repressão sexual, o esconder a expressão do nosso corpo, é maior em mulheres do que em homens, principalmente quando entramos na puberdade. Aprendemos a encolher o corpo e deixamos de nos mover livremente para não chamarmos atenção sobre ele, porque isso não é de ‘boa menina’ e renunciamos também à nossa força física. E assim, vamos encolhendo o nosso espaço e silenciado a nossa voz para passar desapercebidas, para não destacar. Reduzimo-nos para sermos mais uma na manada das ‘boas meninas’ e já se sabe que as rebeldes, as activas, as respondonas não podem fazer parte do grupo assim como as talentosas, as comprometidas, as inteligentes e curiosas também não são bem aceites.

Tenho pensado muito nisto nos últimos dias, tenho observado as mulheres que povoam a minha vida e a mim mesma e a única maneira de nos transformarem em ‘boas meninas’ é reduzindo a nossa fonte vital, o caudal de energia que percorre o nosso corpo. Essa energia que se transforma em vontade de viver, de fazer coisas, de criar, de experimentar e crescer.

A melhor maneira de o fazer é controlando o nosso corpo e a nossa sexualidade. A sexualidade tem sido usada por diferentes culturas para hierarquizar, limitar e restringir as pessoas. Uma pessoa assexuada é uma pessoa desvitalizada, submissa ao poder exercido pelo poder.

No corpo feminino, numa perspectiva taoista, o útero é o primeiro motor energético do corpo da humana. Um órgão encarregado de distribuir a energia sexual (vital) pelo corpo.

Quando eramos meninas e nos rendemos ao modelo de ‘boa menina’, essa rendição teve um custo: a redução que brota do nosso primeiro motor energético e forma como o fizemos foi contraindo o músculo do útero. Assim, o nível de energia com o qual vivemos é menor o que nos deixa mais dóceis, submissas e passivas.

A consequência é tensão física, emocional e vital da musculatura pélvica e um músculo sem flexibilidade, tenso e contraído, que não se pode mover livremente provoca dor. Por isso é tão importante recuperar a consciência do nosso corpo e do nosso útero. O útero é um dos músculos mais poderosos do nosso corpo e que precisa de movimento para dar a luz, para limpar em profundidade mês a mês ou para ter prazer.

Temos sido ‘boas meninas’ mas só até agora!

Convido-te a caminharmos juntas e recuperar esses aspectos esquecidos/desconhecidos do funcionamento do nosso próprio corpo, do nosso ciclo menstrual e do nosso útero.

Vamos explorar juntas, com base cientifica e neuro-endocrinológica o funcionamento dos nossos órgão genitais internos, vamos explorar os elementos do nosso entorno e a nossa relação com os sons, a luz… vamos fazer juntas exercícios de relaxamento, de consciência corporal que nos permitam recuperar a harmonia interna que se rompeu por condicionantes educacionais/culturais, stress ou transtornos emocionais intensos.

Vamos criar uma nova manada, a manada das meninas livres!



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[1] Para situar-te no tempo: década de 80, eu tinha 4/5 anos e só andei um ano na pré num colégio religioso. 



O Bosque dos Contos

 
Quando levo a sessão de contos “Tenda Vermelha”[i] a encontros e círculos de mulheres e há meninas e adolescentes no grupo, no fim, há sempre uma ou duas que me preguntam porque é que quase todas as histórias da sessão se desenvolvem num bosque ou muito próximas dele. A verdade é que eu não conto as histórias descrevendo que os acontecimentos se desenrolam no bosque com a excepção de uma mas é verdade que o nosso imaginário (colectivo) nos pode levar a situar o cenário das histórias que alinhavam esta sessão de contos num bosque. E é o que acontece muitas das vezes. 

Desconheço o/a autor/a. Agradeço informação
Isto porque o bosque pode ser (e é no mundo da imaginação, do onírico) a ponte com a nossa expressão criativa e fecunda.

Alguma vez se perguntaram porque é que avó da Capuchinha vivia numa casa do outro lado do bosque, “obrigando” assim a jovem rapariga a ter que o atravessar para a ir visitar?

Alguma vez se perguntaram porque é que o bosque exerce tanto fascínio na Capuchinha ao ponto de quando o atravessa não sentir medo e sim curiosidades de explorar outros caminhos?

No bosque estão as árvores e as árvores ao longo dos tempos estiveram ao pé das mulheres (e dos homens) quer nos bosques, quer nas grandes cidades, em jardins e parques. As árvores (os bosques) são símbolo de uma natureza selvagem, útil, estranha e/ou valiosa. As árvores utilizam as 4 energias, ar, água, terra e fogo exteriorizando-as através das raízes, folhas e frutos manifestando a sua força e a sua beleza.

No conto da Capuchinha[ii] (na verdadeira história) as árvores representam a verticalidade humana, a união entre o céu e a terra.

A imagem das árvores (dos bosques) esta tatuada na nossa imaginação e facilmente conectamos com ela.

É o que acontece a Capuchinha (e as meninas e as jovens que me perguntam na sessão o porquê do fascínio pelo bosque) que sente uma profunda conexão com o bosque “perdendo-se” nele e desejando descobrir todos os recantos.

Ela (ou seja cada uma de nós e das capuchinhas que nos habitam) observa as árvores e vê[iii] como cada árvore do bosque deitou raízes e cresceu graças a (re)união de forças descendentes e ascendentes as quais esta submetida. Árvores e mulheres expressam o seu potencial de realização (re)unindo as suas fases lunares e solares, divina e terrestre, luz e sombra, ying e yang, santa e puta…

Árvore e mulher são elementos vivos do cosmos, ambos simbolizam a vida em perpétua evolução.

A elevação ao céu e o enraizamento profundo na terra evocam tal como o corpo da mulher o caracter da vida: morte, regeneração, austeridade e renovação.

Observar as árvores, enraizar-se na natureza permitiu a jovem Capuchinha intuir como o seu corpo se parecia com as árvores… As raízes são as profundezas subterrâneas, o tronco e os primeiros galhos ganham vida na superfície terrestre e nas alturas os galhos e ramos mais altos crescem em direcção ao sol e se enchem de pássaros.

Quando uma mulher passeia pelo bosque, se “perde” nele aprende a cultivar, a podar, a integrar e a modelar a sua ciclicidade (a sua árvore interna) para poder gerir melhor as potencialidades do seu ciclo menstrual/hormonal. Passear pelo bosque, conectar com a natureza ajuda-nos a activar a nossa seiva para poder revitalizar a nossa energia. Como esta sessão de contos “Tenda Vermelha” é uma sessão interactiva durante um dos contos fazemos um exercício de enraizamento, querem fazê-lo comigo agora?

EXERCÍCIO DE ENRAIZAMENTO
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Depois de percorrer os contos, as suas imagens, cores, símbolo, BOSQUES e mensagens e de juntas nos abrir-mos a mundo subtil das mil e uma cores da NOSSA CICLICIDADE gosto de fechar a sessão com um conto que termina assim:

“Vão, vão ao bosque… vão depressa se não a vossa vida jamais começara.”

Próxima sessão de Contos aqui»»


__________________________
[i] Se queres ter mais informação sobre esta sessão de contos escreve-me um email: jardineriahumana@gmail.com
[ii] Que é o conto de todas nós. Todas somos Capuchinhas.
[iii] Com os olhos da alma

E vocês gostam de passear pelo bosque? Gostam de abraçar as árvores e enraizar-vos com a natureza? Contem-me tudo aqui nos comentários :)

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O Bosque Pré-Menstrual

   

Todos os meses visito o bosque[i] pré-menstrual e convivo com as Capuchinhas que o habitam

Cada uma das 4 Capuchinhas (a C. Vermelha, a C. Indomável, a C. Sedutora e a C. Feiticeira[ii]) que habita em mim (em cada uma de nós) se desdobra em diferentes formas de expressão que expressam as possíveis combinações entre o meu mundo cíclico que fervilha criatividade e os diversos dons intuitivos e desafios que me habitam a cada fase.

A passagem de uma Capuchinha para outra é progressiva, feita dia a dia, dando espaço a que outras capuchinhas se expressem também. Hoje convido-vos a passearem comigo pelo meu bosque pré-menstrual na companhia da Capuchinha Feiticeira e conhecer as 9 Capuchinhas em que ela se (pode) desdobra(r).

Bosque pré-menstrual 
Ilustração do conto kamishibai "Por Trás da Capa Vermelha", texto Aida Suárez e Ilustração Cândida Campos
Nos primeiros dias da fase pré-menstrual a Capuchinha Feiticeira que sou, é acolhida pela Capuchinha Visionária. A Visionária ensina-me a manifestar toda a minha energia para reencontrar a minha liberdade. Enquanto habito a casa da Capuchinha Visionária a minha visão permite-me descobrir a verdadeira verdade (perdoem-me a redundância) do meu desejo, ajuda-me a discriminar as sombras, compreende-las, transforma-las e finalmente vence-las.

Abandono a casa da Capuchinha Visionária… a Capuchinha Feiticeira que sou continua o seu caminho pelo bosque pré-menstrual e chega até a casa da….

… da Capuchinha Exilada. Visito a sua casa nos ciclos mais densos e emocionalmente desafiantes. Recolho-me na sua casa quando a minha pré-menstrualidade se manifesta ‘premonstrualmente’, ou seja, sou habitada por energias/emoções depressivas que se colam na minha pele e sinto que o meu corpomente descende para o submundo na procura da minha essência. Visito a sua casa para descobrir o que precisa ser limpo, purificado, barrido e depois transformado.

A Capuchinha Feiticeira que sou regressa ao trilho do bosque e continua o seu caminho pelo bosque pré-menstrual até chegar a casa da Capuchinha Criativa. Visito a casa da Criativa nos ciclos em que a minha “alma tem fome”, quando estou cansada de ser uma mulher sensata que se esforça para encaixar nas normas sociais esperadas. Visito a sua casa quando preciso reencontrar-me e/ou nutrir a minha mulher selvagem.

"Somos o fruto da cultura que nos tolhe
Que nos escraviza pela expectativa que escolhe
Impor em nossos corpos, tortos pra caber no molde
Impor em nossos sonhos, mortos pra servir a prole
Comportamentos amenos, a menos que sejas louca
Com recato e em privado, não te exponhas como a outra
Abre menos essa boca, poupa o teu questionamento
Rosto e corpo no ponto, mas com pouco pensamento, tento
Fazer diferente, ser diferente dessa norma militantemente
Ser exemplo, contradizendo-o sempre
Com tradições nascem contradições opressivas
Como lições pra sermos fracas e reprimidas
Sem autoestima, postas de lado como um talher
Não foi pra isso que nasci uma mulher!
Não vou cumprir com a puta da expectativa
Não é para ela que oriento a minha vida..."

Regresso para a trilha e continuo o caminho junto com a minha Feiticeira até encontrar a casa da Capuchinha da Heroína. Visito-a sempre que preciso dissipar o nevoeiro que não me deixa ver o meu poder cíclico, mamífero e humano.

O bosque espera por mim e pela Capuchinha Feiticeira que sou, continuamos o nosso caminho e encontro a casa da Capuchinha Xamã. Visito a sua casa nos ciclos em que preciso transformar-me em maga da minha vida e assumir o meu poder pessoal não com truques de ilusionismo mas com o meu registo cíclico intuitivo e com autocuidado e autoconhecimento do meu corpomente.

Eu e a minha Feiticeira regressamos ao caminho do bosque para seguir a nossa viagem e chegar a próxima casa. A casa da Capuchinha Afrodite. Visito a sua casa quando preciso recuperar ou equilibrar a meu magnetismo e reencontrar os caminhos da liberdade do amor, primeiro do amor-próprio e depois do amor pelos outr@s.

Regresso novamente ao bosque para seguir o trilho pré-menstrual e chegar agora a casa da Capuchinha Amazona, essa mulher guerreira que todas somos. Normalmente, visito a sua casa nos ciclos em que preciso despertar as minhas qualidades solares adormecidas para equilibrar as minhas forças receptivas e activas. Ela ajuda-me a dançar com todas as minhas qualidades (dons) e complementar a suavidade com a determinação dos meus impulsos criativos (criar-vida).

Regresso ao caminho na companhia da Feiticeira, para me dirigir até a casa da Capuchinha Negra, normalmente visito a sua casa nos últimos 2/3 dias da fase pré-menstrual, preciso dela para reequilibrar as minhas forças.

O meu poder criativo, neste momento da fase pré-menstrual, anda de mãos dadas com a minha capacidade de destruir. Há ciclos, em que os dias que passo na sua casa me parecem um verdadeiro inferno mas é na escuridão da Capuchinha Negra que posso fazer a limpeza necessária na minha vida: seleccionar, ordenar, queimar as coisas velhas que no presente se tornaram inúteis.

Quando o trabalho de apreender a equilibrar as minhas energias contraditórias e usa-las a meu favor esta concluída a minha passagem pela casa da Capuchinha Negra e é o memento de continuar o caminho até a última casa, a casa da Capuchinha Sacerdotisa.

Visito a sua casa quando me sei em harmonia. Habito a sua casa quando me sinto mulher consciente e conectada com o meu corpomente de forma plena. Quando me sinto poderosamente inspirada e utilizo sem medo a minha criatividade[iii].

E estas são mais 9 capuchinhas que habitam em mim durante a fase pré-menstrual. Querem conhece-las mais intimamente? Querem conhecer como habitam o bosque (corpo) pré-menstrual?

Então, fiquem atentas ao blog e a página do facebook continuarei a contar-vos sobre a minha viagem pelo ciclo menstrual e as capuchinhas que o habitam. 



[i] Gosto de imaginar que o o meu corpomente é um bosque onde habitam mulheres mágicas.
[ii] Podes conhecer melhor estas 4 Capuchinhas no livro “Por Trás da Capa Vermelha”
[iii] A fase pré-menstrual é potencialmente criativa. 

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Queres mergulhar no mundo Alquímico do Ciclo Menstrual para extrair as chaves da transformação cíclica? Junta-te a tribo da capuchinhas.

As minhas mamas são pequenas.

   

Uma das partes do meu corpo que mais comunica comigo (não tenho distúrbio da personalidade, eu sei que eu e o meu corpo somos um só mas todas falamos sozinhas e a mim deu-me por falar sozinha imaginando que falo com o meu corpo. Não julguem… Experimentem, vão descobrir que ele, são vocês mas que ao mesmo tempo tem uma linguagem própria- a nossa- que nos ensina muito.) são as minhas mamas.

Na adolescência percebi que elas seriam diferentes das, das mulheres da minha família, eu não teria mamas grandes. Na verdade não tenho e talvez por isso sempre me passaram desapercebidas as suas mensagens, pois são tão pequenas e discretas que por vezes me esqueço que estão aí, bem no centro do meu peito.

Observando*me

Mas não pensem que por serem pequenas ou por durante a adolescência ter sido a única das amigas que até aos 16 anos ainda tinha corpo de menina, foi para mim uma experiência terrível… Na verdade, não foi… eu fui uma adolescente um pouco atípica, não me preocupava muito com o facto de não responder aos padrões estéticos (corporais) do que é suposto ser uma mulher-mulher e menos ainda mulher sensual.

Pode parecer estranho escrever mulher-mulher para diferenciar de, só mulher; Como que dizendo que de um lado estão as mulheres-mulheres e do outro lado, as mulheres. Mas em verdade é algo assim o que acontece mas faço-o por três motivos essenciais, três conceitos que em verdade fazem com que existam estes dois grupos: sensualidade, feminilidade e cultura.

O que eu defino como mulher-mulher, são aquelas mulheres que respondem aos padrões de beleza (padrões que passam por umas medidas corporais pré-definidas, uma determinada beleza facial, uma concreta forma de vestir e agir….) que foram estabelecidos pela cultura/sociedade, só que ninguém (ninguém mesmo) nasce assim, os padrões de beleza foram feitos para ser inatingíveis e todas nós sabemos a luta constante que é necessária para não nos esquecermos de que não somos bibelôs de ninguém.

Dito isto, ninguém nasce mulher-mulher o que para mim, é ainda mais cruel. Porque é uma questão de papel de género, essa definição que nos diz como devemos ser, como nos devemos comportar e agir para suprir uma expectativa social criada entorno do que é ser mulher. Se não somos assim, socialmente, somos menos mulheres.

Por isso as mulheres, fazemos mil coisas para nos transformarmos em mulheres-mulheres, e falando de mamas pequenas, operamo-las (ressalto que eu não acho mal nem bem, que quem quiser que o faça e não julgue-mos por isso). Ou seja, existe a punição por destoar de um conceito que não fomos nós que definimos e que, no caso dos seios pequenos, é uma característica física, do corpo da pessoa.

Voltando a minha experiência pessoal… 
Na verdade, durante a adolescência só lhes prestei atenção quando eles tentaram comunicar comigo, como vos contei neste post. Desde então, quando algo precisava ser resolvido e principalmente quando era (ou sou) negligente comigo, eles chamam a minha atenção. Erguem-se, não me deixam que os acaricie e mime até não resolver as coisas (que por sua vez é a melhor maneira de os mimar).

Este episódio foi o que levou a minha atenção para as minhas mamitas, mas não no sentido de encontrar o meu capital sensual e feminino nelas mas no sentido de aprender a cuidar delas, de mima-las, de sentir-mos prazer juntas. Elas e eu. Também fez com que olha-se para a anatomia das mulheres da minha família de uma outra forma. Até então, só tinha pensado nas mamas das mulheres da minha família, em questão de tamanho: são mais grandes do que as minhas, ponto.

Mas depois desta chamada de atenção que elas (as minhas mamas) me fizeram, “descobri” o cancro da mama, que é um dos padecimentos mais frequentes entre as mulheres de todo o mundo.

A informação da Organização Mundial de Saúde indica, que cada ano ocorrem 1,38 milhões de novos casos e 458,000 de mortes em todo o mundo. Entre este número encontram-se vária mulheres da minha família o que aumentou a minha despreocupação com a estética das minhas mamas mas aumentou a preocupação com o autocuidado.

É certo, que não conseguimos predizer se vamos ter algum problema de saúde mamária mas podemos estar informadas das formas de autocuidado que nos permitam conhecer as nossas mamas e reconhecer a sua linguagem, para que no caso de aparecer algo estranho procuremos ajuda prontamente.

Aqui vos deixo a minha #lista de #5passos simples no autocuidado das mamas que pode fazer uma grande diferença na nossa saúde.

1.       Observar
Eu observo as minhas mamas enfrente ao espelho diariamente e presto atenção a como se mostram para mim. Quando me dispo, olho para elas e reparo se há marcas vermelhas pelo uso do sutiã (quando usava sutiã) demasiado apertado ou pelo uso de roupa de justa. As marcas indicam que a circulação da mama podia estar a ser afectada, não é bom para elas ir muito apertadas. As nossas mamas gostam de roupa confortável e que não deixe marcas no corpo. É muito importante valorar as nossas mamas. Eu gosto de no momento em que me dispo, erguer bem o corpo, colocar os ombros para trás, respirar fundo e olhar para elas dizendo: “Olá meninas, vocês são tão bonitas!”

2.       Tocar
Sentir, massajar, levantar e sacudir as nossas mamas. Eu coloco atenção em como elas se sentem nas diferentes fases do meu ciclo menstrual. A massagem e o movimento ajudam a estimular a circulação das mamas. Quando sei o que sinto regularmente, posso notar quando algo acontece de diferente. Existem muitas modalidades de massagem e de trabalho corporal benéficas para o autocuidado das nossas mamocas; eu gosto da massagem circulatória, da massagem de drenagem linfática, a acupressão, da massagem de energia curativa, da escovação em seco entre outras. Quanto mais tocarmos as nossas mamas, mais vamos saber sobre como elas se devem sentir.

3.       Mexer
Outro habito que ganhei, foi: enquanto observo e toco as minhas mamas, dou-me um minuto para ‘pinchar’ suave mente com elas o que melhora o fluxo linfático e circulatório através dos tecidos. O ideal era ter um mini trampolim ou cama elástica cá em casa mas como não tenho, danço. Coloco música e danço pela casa, levantando os braços e movimentado a caixa torácica. Os movimentos e o exercício que implica mover e levantar os braços, dançar por exemplo, abrem e tonificam os músculos profundos da caixa torácica e os ombros, que ajuda a mantar a saúde das mamas.

4.       Nutrir
Alimentar-me com uma dieta rica em vegetais de folha verde, legumes e frutas. Procuro comer alimentos fermentados; os probióticos vivos ajudam na saúde intestinal. Tento manter a saúde do meu sistema digestivo pois ajuda a processar e a eliminar de forma eficiente, ajudando assim na nutrição natural e na desintoxicação. Bebo uma generosa quantidade de água diária. E para mimar ao máximo as minhas mamuscas nada de álcool (não gostar facilita muito, confesso. Mas se gostam de beber um bom vinho a refeição não se privem não é isso o que prejudica!! Vocês sabem!!), açúcar refinado também esta riscado da lista, gorduras trans, corantes e activadores de sabor artificiais.

5.       Respirar
A respiração natural e profunda que cria movimento na caixa torácica por baixo das mamas contribui para uma melhor vitalidade do tecido mamário. A respiração profunda ajuda-me a aliviar o stress, a congestão e a tensão na área do peito, mobiliza e estimula a circulação linfática e ajuda-me a trazer a minha consciência para essa zona do meu corpo. Também sinto, como a respiração profunda e relaxada faz com que sinta como o meu estômago se distende, a inspiração se expanda pelo abdómen e pela caixa torácica, o que cria movimento nas mamas. A respiração ajuda-me a abrir o peito, favorecer o relaxamento e o movimento natural que revitaliza as mamas. A respiração profunda associada a consciência, permite-me sintonizar com o meu corpo para perceber como se sentem as minhas mamas e assim, de forma intuitiva, sinto-me guiada a fazer as coisas que lhes proporciona vitalidade. Respirar profundamente é ter mamas saudáveis!
Para trabalhar técnicas de respiração profunda, experimentei Rebirthing, Pilates e Yoga mas podem encontrar as vossas próprias ferramentas.  

♥ Acima de tudo conheçam, cuidem e mimem as vossas mamas, são maravilhosas ♥

No que diz respeito ao valor sexual da mulher atribuído através das mamas, sim, não podemos negar que isso acontece. As nossas mamas  são percebidas como indício diferencial de género. Podemos ver como esta ideia é reforçada neste estudo de 2013 onde a autora nos lembra que quanto maiores os seios, maior a 'objetificação' na terminologia popular.

Por isso a nossa autoestima em relação as nossas mamas é muitas vezes construída desde o exterior, foi por isso que comecei a rever as ideias e os sentimentos que eu tinha pelas minhas mamas e *Uffa*, que deu trabalho! 

No processo de desconstrução comecei a tentar deixar de usar clichés 'objetificadores' sobre as minha mamas. Um que eu usava muito era “mamas perfeitas são as que cabem na mão”. Apercebi-me que ao dizer isto estava a tentar remediar uma ideia machista com outra igualmente machista, tal como fazemos quando dizemos que as “mulheres de verdade têm curvas” (e as outras são de mentira?). 


Percebi que manter este tipo de coisas como relevantes é manter a ideia nos padrões e regras que nos chegam de fora alimentando a ideia desse mito inatingível de feminilidade  pensando que é o caminho para ser feliz.

Para mim, as minhas pequenas mamas começaram a ser lindas e perfeitas não porque eram populares, mas porque eu me apercebi que beleza é múltipla e pessoal. Ou seja, está na cabeça. A beleza que está fora da cabeça é imposta. E nada do que é imposto pode ser lindo.

E vocês? Como é que é a vossa relação com as vossas mamocas? Como cuidam delas?
Contem-me tudo aqui nos comentários ;) 

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*Sugestão literária para promover a saúde mamária
“Breastology 101: Be Your Own Breast Expert” de Kara Maria Ananda podem encuentr-lo em: www.karamariaananda.com

Faz um ano que cortei o cabelo e desde então ouvi muita asneira!

 
Hoje 13 de Fevereiro faz um ano que cortei o meu cabelo e deixei de o pintar. 

A minha mãe tinha tido alta hospitalar muito recentemente e fazia anos (faz hoje anos, parabéns mãe!!!), decidimos ir ao cabeleireiro dar uma cortadela e um refresh no visual dela.
Enquanto a cabeleireira lhe cortava o cabelo, ela olhava para mim como que desafiando-me: "corta o teu, vá... anima-te".

Eu levava já algum tempo a dizer que queria cortar o cabelo para deixar de o pintar. Em Dezembro já tinha cortado um bom pedaço mas para deixar de o pintar ainda faltava mais uma fase de corte.

Como levava semanas pensando naquilo, atirei-me de cabeça e disse: "A próxima sou eu". 

O meu cabelo curto
Desde então tenho ouvido as coisas mais estranhas... sobre o meu corte de cabelo! 

Comentário  de um rapaz conhecido: "Cabelo curto em gaja é chunga, não dá para puxar no momento da f***"

Comentário da sogra: "Não me digas que cortas-te o cabelo para não ter trabalho? Não vais deixar assim muito tempo, pois não? Vais deixar crescer outra vez? Não vais pintar mais?"

Comentário de uma amiga mais velha: "Não cortes mais o cabelo, aproveita para o usar comprido enquanto és nova porque quando chegares a minha idade vais te arrepender de o ter cortado." 

Comentário de uma amiga: "E o Nuno (que é o meu companheiro) deixou-te cortar o cabelo assim?

O empregado do confeitaria onde costumo ir comprar o pão e que se sente como se fosse da família: "Até te fica bem mas da-te um ar menos feminino."

Um antigo amigo colorido: "Os homens não gostam de mulheres de cabelo curto." 

Um conhecido que já não via há muito tempo e encontrei por acaso: "Viras-te lésbica?"

Nem vou comentar tanto comentário sem noção minha Deusa! Cada uma de vocês que faça a sua própria reflexão.

Na verdade para mim, cortar o cabelo foi...

Cortar o cabelo foi para mim um acto para me aproximar de mim mesma.... a minha enorme cabeleira pesava-me e o cabelo pintado de preto (mesmo sendo a minha cor natural de nascença) já não me representavam. Senti que estava a libertar-me... a soltar... a limpar e poucas horas depois de cortar o cabelo a minha menstruação desceu e foi potente a sensação de limpeza e de abandonar o que já não me serve para iniciar um novo ciclo.

Apercebi-me que sempre que preciso de uma mudança radical, mudo também de forma radical o estilo do meu cabelo. Corto, pinto... mas desta vez foi uma mudança radical ao quadrado. Não mudei apenas o corte mudei a estética totalmente, passei de uma cabeleira que me batia na cinta para um corte curto, muito curto (pente 3 na parte de trás). Sentia que precisava iniciar uma nova etapa da minha vida , reencontrar-me com um lado de mim. Um lado mais livre, mais forte e mais simples e senti que cortar o cabelo e deixar de pinta-lo me conectaria com esse meu lado... com esse meu Eu.

Mas nunca imaginei, que o cabelo curto me ajudasse a encontrar essa parte de mim de uma forma tão potente... dito isto, vocês podem perfeitamente estar a pensar, que decidir cortar ou não o cabelo é uma decisão meramente estética mas para mim naquele momento teve um outro significado: estava a tirar de dentro para fora aquilo que eu sentia.

Hoje faz um ano que uma outra eu, que precisava morrer, morria... um ciclo chegava ao fim para poder desenhar outro diferente. Que iniciei com um novo ritmo. Comecei uma nova contradança com a minha ciclicidade.

E hoje, um ano depois terminei a minha metamorfose, que começou com um corte de cabelo... E aqui estou eu, começando uma nova etapa .

Agora vou desfruta-la e vive-la  com ternura e dando espaço ao prazer.

Eu sei que não somos um cabelo curto ou comprido mas a decisão de corta ou não o cabelo pode ser uma acção que que nos permita expressar os nossos desejos, medos e emoções por uma simples razão, o corpo fala. O corpo é o meio pelo qual me expresso.

E para vocês, o cabelo é só cabelo ou é também um pedaço da vossa identidade? Contem-me tudo, tudinho aqui nos comentários ;)


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